
Somerville, MA – 22 de outubro de 2025 – Uma marcha e vigília em solidariedade aos imigrantes reuniu aproximadamente 250 participantes na noite de terça-feira, 21 de outubro, pelas ruas de Somerville, na região metropolitana de Boston. O evento, organizado por uma coalizão de grupos comunitários locais, destacou o crescente descontentamento com as operações de detenção conduzidas por agentes federais de imigração, conhecidas como ICE, que têm intensificado suas ações desde o início do ano. A manifestação, que triplicou de tamanho em comparação a eventos semelhantes recentes na cidade, reflete uma onda de resistência em bairros com forte presença de comunidades imigrantes, especialmente na East Somerville, onde cerca de 70% dos estabelecimentos comerciais são operados por famílias de origem estrangeira.
A concentração inicial ocorreu em um parque público central, onde participantes se reuniram para discursos curtos sobre a importância da coesão comunitária diante do medo imposto pelas detenções surpresa. Dali, o grupo seguiu em uma marcha pacífica de cerca de uma hora, percorrendo avenidas movimentadas como a McGrath Highway e a Broadway. Placas e faixas com mensagens de apoio aos afetados balançavam ao ritmo dos passos, enquanto voluntários em bicicletas garantiam a segurança do trajeto.
Motoristas locais demonstraram solidariedade com buzinas prolongadas, e alguns trabalhadores de lojas próximas interromperam suas atividades para se juntar ao cortejo, ampliando o impacto visual da ação. O percurso incluiu uma parada simbólica em frente a um restaurante típico da região, que tem registrado queda drástica no movimento de clientes devido ao pânico generalizado causado pelas operações federais.
Os manifestantes destacaram como essas ações têm esvaziado espaços comerciais e afetado a vida cotidiana, separando famílias e gerando insegurança em bairros historicamente acolhedores. A marcha encerrou-se com uma vigília silenciosa em uma biblioteca comunitária, iluminada por velas portáteis, onde o grupo observou um momento de reflexão coletiva, acompanhado por uma performance musical que evocava resiliência e unidade cultural.
Os motivos centrais da manifestação giram em torno da condenação às detenções arbitrárias de residentes, muitas delas ocorridas sem mandados prévios ou notificações, em locais cotidianos como estacionamentos de cafés e canteiros de obras. Um incidente recente, ocorrido no início de outubro, envolveu a apreensão de trabalhadores de uma empresa de pintura em um ponto de parada próximo ao parque inicial da marcha, ilustrando o que os participantes descrevem como táticas de intimidação que visam comunidades latinas e brasileiras, predominantes na área.
Desde janeiro de 2025, mais de 30 residentes de Somerville foram detidos nessas operações, contribuindo para um clima de apreensão que afeta não apenas os imigrantes, mas toda a rede econômica e social local. Os manifestantes enfatizaram a necessidade de proteção aos vulneráveis, criticando as políticas federais por priorizarem a remoção em massa em detrimento de direitos humanos básicos e da estabilidade comunitária.
Essa ação em Somerville não ocorre isolada, mas como parte de uma sequência de protestos anti-ICE na região de Boston que ganhou ímpeto nas últimas semanas. Embora não haja registros de manifestações específicas na segunda-feira, 20 de outubro, o fim de semana anterior viu uma escalada significativa. No sábado, 18 de outubro, o rally “No Kings” encheu o Boston Common com estimados 125 mil participantes, um dos maiores eventos nacionais contra o que os organizadores chamam de abusos autoritários do governo federal. Essa mobilização, replicada em dezenas de cidades americanas com um total estimado de 7 milhões de pessoas – um aumento em relação aos 5 milhões de junho –, incluiu demandas explícitas pelo fim das operações de ICE, com faixas e cartazes denunciando Blitz que se intensificaram após o shutdown governamental de outubro.
Em Boston, o foco foi em treinamentos para resistência não violenta, boicotes econômicos e pressão sobre autoridades locais para reforçar políticas de santuário. Dias antes, em 11 de outubro, uma vigília de 14 horas em frente ao escritório regional de ICE em Burlington, a cerca de 20 quilômetros de Boston, reuniu dezenas de ativistas que bloquearam acessos simbólicos ao prédio, exigindo melhores condições para detidos e o fim de práticas consideradas inconstitucionais. Esses eventos, combinados com a marcha de Somerville, sinalizam uma tendência de crescimento exponencial nas ações locais: de pequenos grupos em março e maio – que atraíram milhares em resposta a detenções de estudantes universitários – para multidões maiores agora, impulsionadas pelo acúmulo de casos ao longo do ano.
A polícia de Somerville facilitou a terça-feira bloqueando o tráfego sem incidentes, contrastando com relatos nacionais de confrontos em movimentos semelhantes. Analistas locais observam que essa efervescência reflete a polarização regional, com Massachusetts – um estado de forte tradição progressista – servindo como contraponto às políticas de imigração do governo federal. Enquanto as detenções continuam a gerar medo, as manifestações fortalecem redes de apoio, como linhas diretas para reportar avistamentos de agentes e campanhas de conscientização sobre direitos. Com midterms se aproximando em 2026, esses protestos podem moldar o debate sobre imigração, pressionando legisladores a adotarem medidas protetoras mais robustas. A expectativa é de que ações semelhantes se multipliquem, transformando o descontentamento em um movimento sustentado pela base comunitária.


