Por : Eliana Pereira Ignacio – Olá meus caros leitores, hoje trago um dilema que acomete a muitos – Como eu sou para os outros – Como eu sou de fato. O que você representa para os outros será sempre a sua atitude interpessoal ou sua postura social. Vou chamar esse desempenho social de Papel Social. Os papeis sociais são sempre diferentes nas diversas situações do cotidiano. É possível entender os papeis sociais como se fossem as roupas com as quais nos apresentamos aos outros.
Normalmente, e em nome do bom senso, devemos nos apresentar adequadamente às expectativas de nosso público, portanto, de alguma forma estamos quase sempre desempenhando algum tipo de papel em atenção aos nossos expectadores, mais precisamente, de acordo com a expectativa cultural.
Para o sucesso social do ser humano há sempre uma imperiosa necessidade de a pessoa se apresentar ao outro através de uma identidade pessoal adequada. A função dos papeis sociais está relacionada à própria identidade da pessoa em seu meio social, uma maneira desejável de se apresentar aos semelhantes e assegurar uma identidade pessoal mais aceitável possível. Embora seja obrigado à adequar o vestuário às circunstâncias, continua sendo sempre a mesma pessoa.
O vestuário é capaz de modificar a identidade para nossos observadores. O sucesso social da pessoa, tão glorificado pela nossa cultura, é conquistado na proporção de um bom desempenho artístico e, conseqüentemente, a aprovação social será de acordo com a qualidade do personagem que é oferecido aos espectadores.
Por mais que queira representar sendo maior do que é, menor do que é ou diferente do que é, de uma realidade não conseguirá escapar: é, de fato, um representante da espécie humana, tanto quanto o são todos seus semelhantes. Estou falando da essência humana e não da função humana; somos todos essencialmente iguais e funcionalmente diferentes. Portanto, habita em nossa personalidade todos os traços encontrados nas demais pessoas, mas, apesar de não haver nada de especial em nós que não haja em todas as pessoas, a combinação desses traços em nosso interior é que nos fazem únicos e exclusivos.
Se fosse possível listar todas as características do ser humano, tais como lealdade, ambição, fraternidade, inveja, maldade, companheirismo, egoísmo, caridade, etc., veríamos que esses infindáveis atributos, independentemente de seus méritos e deméritos, existem todos em nossa própria pessoa, assim como existem em todas as pessoas.
Acontece que todas essas características se combinam entre si para constituir a particular personalidade, as características (traços), se arranjam de forma a nos tornar únicos. Alguns traços são mais primitivos e instintivos são domesticados e passam a se apresentar socialmente dissimulados através dos papeis sociais.
A gula, a avidez, a sedução, a inclinação para a posse e o orgulho, por exemplo, podem ser perfeitamente domesticados e se apresentarão através dos mais variados subterfúgios sociais. A gula em bom apetite, a avidez em determinação, a sedução em simpatia, a inclinação para a posse em ambição e o orgulho em exercício de seus direitos. Normalmente temos uma tendência em recriminar os outros as coisas que não conseguimos ou não nos permitimos fazer. Entretanto, consultando nossa intimidade, veremos que possuímos também esses mesmos traços. Apenas não nos permitimos usá-los.
Diante da frustração de vermos, nos outros as atitudes que não nos permitimos mas, que pululam dentro de nós, primeiro dissimulamos essa nossa incapacidade sob rótulos socialmente enobrecedores, tais como “prefiro ficar com a consciência tranqüila” ou “isso está moralmente errado”, ou finalmente, “quero estar de bem com Deus. Poderíamos comparar esse “O Que Eu Sou de Fato” com a figura junguiana da Sombra, a qual inclui as tendências, desejos, memórias e experiências que são rejeitadas pelo indivíduo como incompatíveis com a manifestação pública do Papel Social e contrárias aos padrões e ideais sociais.
E esse “O Que Eu Sou de Fato” representaria não apenas as peculiaridades humanas impossíveis de serem demonstradas em estado bruto, mas também os atributos meritosos, como a necessidade de carinho, de amor, de compreensão, etc. Excluindo-se aberrações e anomalias de nossa espécie, somos o mesmo que o outro, tão humano quanto ele, tão ávidos de prazeres, tão necessitados de bem-estar quanto ele.
Atenção: Algumas patologias se caracterizam pelo papel social de doente, que o paciente “assume” como verdadeiro. Portanto existe um grande risco psíquico nos papeis sociais, está no fato da pessoa poder confundir ela própria com o papel social que desempenha.
Para evitar graves transtornos da adaptação e graves frustrações no convívio com os demais, deve ter sempre a clara noção do ponto onde termina seu papel social e começa sua própria pessoa.
“ Cada um examine os próprios atos, e então poderá orgulhar-se de si mesmo sem se comparar com ninguém” Gálatas 6.4 Até a próxima semana!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em
Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualifi cações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jsnewsusa.com