Por: Eliana Pereira Ignacio – Olá, caros leitores! Aproveitando as recentes comemorações do dia 13 de maio, referentes à abolição da escravatura no Brasil, hoje venho falar de um tipo de escravidão pouco reconhecida: o papel de vítima que muitos assumem. Para entender melhor o que pretendo dizer, vou começar falando da origem da palavra “vítima”. Ela tem origem no latim, nas palavras “victus” e “victimia”, que simbolizavam a ideia de “dominado” e “vencido”.
Atualmente, o termo “vítima” se estende ao sofrimento de resultados frustrantes, maléficos, dolorosos ou infelizes causados por outras pessoas, pelo acaso ou pelos próprios atos. Nesse caso, a vítima, muitas vezes sem perceber, acaba por ser dominada, vencida por si mesma, criando um emaranhado de situações que inconscientemente sustentam sua permanência neste papel de vítima, corroendo aos poucos sua capacidade de percepção e sua possibilidade de agir fora desse cenário.
Ser protagonista da própria vida parece simples, mas muitas pessoas preferem reclamar e culpar os outros pelas frustrações, em vez de assumir a responsabilidade por sua infelicidade. Existem diferentes tipos de vítimas em diversas situações e intensidades, mas um dos mais difíceis, cruéis e dolorosos, certamente, é quando a pessoa se torna vítima de si mesma. Muitas vezes, sem perceber, ela se coloca em uma posição que não apenas acaba com o prazer de viver, mas também rouba dela a possibilidade de aproveitar todos os ensinamentos que a vida tem a oferecer.
Isso acontece porque a pessoa simplesmente não consegue assumir qualquer responsabilidade por suas ações. Pelo contrário, ela escolhe, consciente ou inconscientemente, adotar um padrão de comportamento em que está sempre julgando, criticando e culpando Deus e o mundo por tudo o que acontece, sem jamais voltar o olhar para si mesma, dificultando ou até mesmo impossibilitando seu próprio desenvolvimento.
Segundo José Cesário Francisco Junior, psiquiatra e psicanalista, a origem desse comportamento está na infância, e as mães desempenham um papel fundamental em contê-lo. “É como se o bebê não pudesse perceber que existem dores, sofrimentos e situações turbulentas dentro de si mesmo, atribuindo tudo o que é desconfortável, desagradável ou desprazeroso para ele às queridas mamães”. Dessa forma, é possível perceber que se as mães não conseguem lidar com isso e promover um acolhimento adequado para a situação, elas não serão capazes de instilar no bebê a capacidade de lidar com esses sentimentos.
A abordagem da Epigenética, juntamente com as Constelações Sistêmicas, sugere que assumir o papel de vítima seja tanto uma doença quanto um comportamento social, geralmente iniciado por um trauma vivido pela pessoa ou por um trauma sistêmico, ou seja, um trauma vivido por outra pessoa da família. Pode-se afirmar que a vítima consegue lidar com a situação traumática sem se beneficiar dela psicologicamente e socialmente. No momento em que utiliza o trauma como meio de manipulação para obter o que deseja, passa a assumir um “papel” e entra em atuação.
Esse processo muitas vezes é inconsciente e não alivia o sofrimento real da pessoa. Essa pessoa enxerga a vida como sua inimiga, considerando Deus seu inimigo e o mundo perigoso. Ela se torna uma queixosa crônica, acostumada a se vitimizar e não reconhece a responsabilidade por sua infelicidade. Em suma, quem se coloca no papel de vítima desenvolve um apego ao sofrimento, tornando-se o “pobre de mim”. Eles emitem mensagens vagas de queixa e arrependimento, tentando fazer com que os outros se sintam culpados. Essas pessoas invertem a situação facilmente, mostrando-se como sofredores.
A desconfiança excessiva, que pode chegar ao nível de paranoia, é uma característica comum, além de demonstrarem sentimentos de inferioridade, incapacidade, passividade, inércia e depressão.
O sofrimento se torna um hábito, onde a dor é a única maneira de sentirem que existem. Elas se apegam a esse sentimento, pois recebem mais atenção, cuidado e compaixão dos outros. As características mais comuns desse perfil são estresse exagerado, autopiedade, sentimento de incapacidade muitas vezes exagerado e fantasioso, sentimentos de perseguição, punição, castigo, autopunição, culpa, reclamação e lamentação.
Como mencionei no início, trata-se de uma escravidão muito sofrida e nenhuma ação externa ou decretos pode libertar a pessoa. A liberdade está nas mãos de cada um que se permite ser vítima.
Portanto, é hora de reagir, buscar ajuda e aproveitar a oportunidade de libertar-se, pois ninguém pode fazer isso por você! Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão Gálatas 5:1
Até a próxima semana!!
Eliana Pereira Ignacio é psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University.
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