Por: Eliana Pereira Ignacio – Olá meus caros leitores, hoje venho falar sobre a ideia de que os pais veem seus aspectos negativos em filhos. A relação entre pais e filhos é um terreno fértil para o desenvolvimento humano, repleto de amor, aprendizado e, muitas vezes, desafios. Um aspecto interessante e profundo dessa dinâmica é como os pais podem ver em seus filhos reflexos de si mesmos, incluindo aspectos negativos que eles próprios negam ou censuram.
Este fenômeno pode ser compreendido tanto pela psicologia quanto pela perspectiva cristã, oferecendo insights valiosos sobre a origem dos chamados “problemas infantis” e sugerindo que, muitas vezes, não existem crianças-problemas, mas sim pais-problemas. Do ponto de vista psicológico, o conceito de projeção é central para entender essa dinâmica.
Projeção é um mecanismo de defesa identificado por Sigmund Freud, no qual uma pessoa atribui a outros sentimentos, pensamentos ou características que ela própria não consegue reconhecer ou aceitar.
Quando aplicado à parentalidade, isso pode significar que pais veem em seus filhos comportamentos ou traços que eles mesmos possuem, mas que reprimem ou negam. Por exemplo, um pai que foi ensinado a reprimir a raiva pode ficar extremamente incomodado com os acessos de raiva do filho. O que ele talvez não perceba é que a reação exagerada pode ser um reflexo de sua própria dificuldade em lidar com a raiva.
Em vez de reconhecer essa emoção em si mesmo, ele a projeta no filho, tratando o comportamento como um problema da criança, e não como uma oportunidade para autoconhecimento e crescimento.
Além da projeção, a teoria do apego, desenvolvida por John Bowlby e Mary Ainsworth, também oferece insights. Pais que não tiveram suas necessidades emocionais devidamente atendidas na infância podem lutar para fornecer segurança emocional e apoio consistente para seus próprios filhos. Isso pode levar a uma reprodução inconsciente de padrões negativos de comportamento e relação. Assim, os problemas percebidos nos filhos podem, na verdade,
Ser Na tradição cristã, a relação entre pais e filhos é frequentemente moldada pela ideia de amor incondicional e sacrifício. No entanto, a Bíblia também reconhece a falibilidade humana. Em Mateus 7:3-5, Jesus fala sobre a hipocrisia de criticar os outros sem primeiro examinar a si mesmo: “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?” Aplicando este princípio à parentalidade, podemos entender que os pais devem primeiro buscar introspecção e autocompreensão antes de julgar ou tentar corrigir seus filhos.
A fé cristã ensina que todos somos imperfeitos e que a verdadeira mudança começa dentro de nós. Portanto, quando os pais reconhecem aspectos negativos em seus filhos, é uma oportunidade para refletir sobre suas próprias falhas e buscar a graça e a orientação divina para superá-las. Além disso, a Bíblia ensina a importância do amor e da paciência na educação dos filhos.
Efésios 6:4 diz: “Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor.” Esta passagem sugere que a disciplina e a orientação devem ser administradas com gentileza e compreensão, reconhecendo que os folhos são indivíduos em crescimento e aprendizado.
Unindo Psicologia e Fé é possível afirmar que quando combinamos essas duas perspectivas, o quadro que emerge é de profunda responsabilidade parental, tanto no cuidado das crianças quanto no desenvolvimento pessoal dos pais.
A psicologia nos ajuda a entender os mecanismos internos que podem distorcer nossa percepção e comportamento, enquanto a fé cristã nos orienta a cultivar virtudes de amor, paciência e autocompreensão.
Os pais são chamados a serem espelhos conscientes, refletindo não apenas os comportamentos que desejam ver em seus filhos, mas também reconhecendo e trabalhando em suas próprias falhas e limitações. Quando os pais aceitam que seus filhos podem estar refletindo aspectos de si mesmos que precisam ser abordados, eles dão um passo crucial em direção a uma parentalidade mais saudável e holística. Em última análise, ao reconhecer que não existem crianças-problemas, mas sim pais-problemas, abrimos espaço para uma abordagem mais compassiva e eficaz na criação dos filhos.
Isso não apenas bene cia as crianças, permitindo-lhes crescer em um ambiente de compreensão e apoio, mas também oferece aos pais a oportunidade de crescer e se transformar, tornando-se não apenas melhores cuidadores, mas também melhores seres humanos.
Essa jornada de autoconhecimento e crescimento mútuo é um reflexo do amor incondicional que está no coração tanto da psicologia humanista quanto da mensagem cristã. Ao abraçar essa perspectiva, os pais podem não apenas ver seus filhos com novos olhos, mas também redescobrir a si mesmos, em um processo contínuo de aprendizado e transformação.
Coroa dos velhos são os filhos dos filhos; e a glória dos filhos são seus pais. Provérbios 17:6 Até a próxima semana!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jsnews.com