Por: Alfredo Melo – A Taça Guanabara de !968, foi atípica. Um torneio que estava entrando na sua quarta disputa, seria disputado pelos seis primeiros colocados, no campeonato carioca do ano anterior. O sexto lugar terminou empatado entre Bonsucesso e Fluminense.
Segundo o regulamento, a vaga seria disputada em um jogo extra, entre as duas equipes. Na reunião arbitral da Federação Carioca, foi decidido por unanimidade, que naquele ano, seria disputada por sete equipes.
O jogo inaugural seria entre Fluminense x Bonsucesso.
Na semana em que antecedeu a partida, o meio-campo Brandao, do Bonsucesso, foi assassinado e, a pedido do Rubro-anil Leopoldinense, a partida foi adiada, o que provocou o adiamento de todos os jogos do Bonsucesso na tabela. Desta forma, a tabela, que já mantinha um clube de folga, passou a ter sempre um jogo atrasado. Torneio curto, de um turno apenas não permitia tropeços e, assim, o Flamengo chegou à última rodada para enfrentar o Botafogo, sem nenhum ponto perdido, enquanto o alvinegro, já acumulava dois tropeços, dois empates em 1×1, com Vasco e com América.
Apesar de ter um jogo atrasado contra o Bonsucesso, a vitória rubro-negra, já daria o título ao clube da Gávea. Com dois pontos de vantagem, a torcida do Flamengo predominava nas arquibancadas, enquanto os desacreditados torcedores alvinegros, preferiram ficar em casa.
Ao fim da partida Flamengo e Botafogo, não conseguiram sair do zero a zero.
Com um ponto perdido contra três do Botafogo, o Flamengo, enfrentaria na quarta-feira o Bonsucesso, dependendo de um empate para ser campeão da Taça Guanabara de 1968. Observem que nesta época, a vitória valia apenas dois pontos, ao contrário de hoje, onde uma vitória vale três pontos.
O difícil empate com o Botafogo e a decisão contra o frágil Bonsucesso, contagiou a torcida do Mengão, que saudou o time aos gritos de “campeão” “campeão” “campeão”.
Os jogadores se entregaram àquele entusiasmo e sem ninguém da comissão técnica para alertá-los, cometeram loucuras. O time deu a volta olímpica. O zagueiro Onça, atirou camisa, calção, meião e chuteiras para os torcedores da célebre e saudosa “Geral do Maraca”, verdadeiro território livre dos torcedores.
Torcedores de clubes diferentes se misturavam na geral, e não saia uma briga, ao contrário das arquibancadas, onde as torcidas estavam separadas. Na quarta-feira, o Flamengo, foi ao Maracanã, apenas oficializar o “titulo”.
Apenas um detalhe foi esquecido, não avisaram ao Bonsucesso. Numa atuação de gala, o clube Leopoldinense derrotou um espantado Flamengo por 2×0, colocando a decisão da Taça Guanabara no colo do Botafogo.
Como naquela época não havia campeonato Brasileiro, os clubes ao final dos campeonatos regionais, partiam caçando amistosos, pelo mundo afora.
O Botafogo, após o jogo com o Flamengo, havia saído direto do Maracanã, para o aeroporto do Galeão onde embarcou para disputar dois amistosos na Costa Rica. Com a derrota do Flamengo, o Botafogo voltou às pressas para o Brasil para enfrentar o Flamengo, na quarta-feira.
Com o Flamengo abalado e a torcida alvinegra motivada, os dois times disputaram a partida extra, para um público de 100 mil pessoas, entre pagantes e não pagantes.
O Botafogo passeou em campo e goleou o Flamengo por 4 x1 e com um pênalti perdido por Gerson, aos gritos de olé da torcida alvinegra. Gerson, que seria o “Canhotinha de Ouro” do mundial de 1970 no México, ao final da partida, provocou os jogadores do Flamengo, dizendo que eles teriam que dar uma Nova Volta Olímpica, agora “DE COSTAS”.
Bem, até que enfim o Alfredo Melo assume a verdade que nunca quis calar: ele é o Gatinho Cruel, que agora sai de cena para dar lugar ao seu criador. Enorme criatura no sentido literal, na bondade, no caráter e no conhecimento profundo do futebol e das coisas boas da vida, inclusive pratos deliciosos. Ah, tem também a paixão pelo Botafogo cada dia maior.