Por: Alfredo Melo – Na segunda metade da década de 1960, as torcidas rivais, chamavam os torcedores do Flamengo, de urubus, apelido de cunho racista, em decorrência da grande maioria dos torcedores do Flamengo serem negros e viverem em morros e favelas, e cantavam uma parodia que enlouquecia a torcida do Flamengo, cuja letra dizia assim “é ou não é piada de salão um time de urubus querer ser campeão”.
A cada derrota do Flamengo, essa parodia cantada pelos adversários dilacerava os corações rubro-negros. Ironicamente, coube a quatro rapazes brancos, de classe média-alta, moradores do bairro do Leme ao lado de Copacabana, reverter o apelido pejorativo e humilhante, em orgulho da nação rubro-negra.
Em 1969, em um jogo Flamengo x Botafogo, e o Flamengo estava há 5 anos, sem vencer o rival, os quatro amigos, mandaram fazer uma bandeira do Flamengo, capturaram um urubu, amarraram a bandeira aos pés da ave e soltaram no estádio antes do clássico.
O urubu a princípio parecia que não conseguiria alçar voo, saiu meio de lado, mas se aprumou e voou, não para fora do estádio, mas sobre a arquibancada, em todo o anel do Maracanã e pousou triunfalmente no gramado.
No momento do pouso a torcida rubro-negra explodiu em estase ao coro de “e urubu, e urubu e urubu”, para completar festa, o Flamengo quebrou um tabu de 5 anos e venceu o Botafogo por 2×1. Naquele dia, perante um público de 149 mil pagantes, os urubus tiveram o seu dia de glória e não viam mais o apelido de urubu, como vergonha ou humilhação, eles eram urubus, com orgulho.
O cartunista Henfil, flamenguista, criou o personagem Urubu em suas tirinhas, publicadas no Jornal dos Sports (o jornal cor de rosa), e na revista Placar, imortalizando o Urubu, na torcida do Mengão e varrendo definitivamente, Popeye, da memória dos poucos torcedores que ainda se lembravam dele.
Em 2009, o presidente do Flamengo, Delair Dumbrosck, em um evento, tentou ressuscitar o Popeye, como mascote, junto ao Urubu, não conseguiu, o Urubu, continuou a voar soberano.
Os quatro rapazes do Leme, Luiz Octavio Vaz, Romilson Meirelles, Victor Ellery e Erick Soledade, estavam certos, transformaram o ultraje em orgulho, depois daquele 1 de junho de 1969.
O Flamengo nunca mais foi o mesmo. A torcida do Flamengo, talvez, seja a única torcida do mundo a criar o seu próprio mascote.
Bem, até que enfim o Alfredo Melo assume a verdade que nunca quis calar: ele é o Gatinho Cruel, que agora sai de cena para dar lugar ao seu criador. Enorme criatura no sentido literal, na bondade, no caráter e no conhecimento profundo do futebol e das coisas boas da vida, inclusive pratos deliciosos. Ah, tem também a paixão pelo Botafogo cada dia maior…