Por: Alfredo Melo – Os Mascotes são uma tradição nos clubes do mundo todo. As torcidas se identificam com eles e esses mascotes se tornam uma paixão entre os torcedores. Na década de 1940 um chargista argentino, Mollas, viu que em muitos aspectos, o marinheiro Popeye se assemelhava ao Flamengo, principalmente por o Flamengo ser um clube de regatas, também, e criou a charge do marinheiro Popeye, como mascote rubro-negro.
Infelizmente, o Popeye, não conseguiu se conectar com a torcida flamenguista e logo caiu no ostracismo. Muitos achavam que o marinheiro Popeye, criado nos Estados Unidos, na década de 1920, era um herói americano e nada tinha a ver com o Flamengo.
Na segunda metade da década de 1960, as torcidas rivais, chamavam os torcedores do Flamengo, de urubus, apelido de cunho racista, em decorrência da grande maioria dos torcedores do Flamengo serem negros e viverem em morros e favelas e cantavam uma parodia que enlouquecia a torcida do Flamengo, cuja letra dizia assim: “é ou não é piada de salão um time de urubus querer ser campeão.”.
A cada derrota do Flamengo, essa parodia cantada pelos adversários dilacerava os corações rubro-negros. Ironicamente, coube a quatro rapazes brancos, de classe média alta, moradores do bairro do Leme ao lado de Copacabana rever- ter o apelido pejorativo e humilhante, em orgulho da nação rubro-negra.
Em 1969, em um jogo Flamengo x Botafogo, e o Flamengo estava há 5 anos, sem vencer o rival, os quatro amigos, mandaram fazer uma bandeira do Flamengo, capturaram um urubu (hoje para horror dos ambientalistas), amarram a bandeira aos pés da ave e soltaram no estádio antes do clássico.
O urubu a princípio parecia que não conseguiria alçar voo, saiu meio de lado, mas se aprumou e voou, não para fora do estádio, e sim sobre a, arquibancada, em todo o anel do Maracanã e pousou triunfalmente, no gramado. No momento do pouso, a torcida rubro-negra explodiu em estase ao coro de “é urubu, é urubu, é urubu”, para completar a festa, o Flamengo quebrou um tabu de 5 anos e venceu o Botafogo por 2×1.
Naquele dia, perante um público de 149 mil pagantes. os urubus, tiveram seu dia de glória e não viam mais o apelido de urubu, como vergonha ou humilhação, eles eram urubus, com orgulho.
O cartunista Henfil, flamenguista doente, criou o personagem Urubu em suas tirinhas, publicadas no Jornal dos Sports (o jornal cor de rosa), e na revista Placar, imortalizando o Urubu, na torcida do Mengão e varrendo definitivamente, o marinheiro Popeye, da memória dos poucos torcedores que ainda se lembravam dele. Em 2009, o presidente do Flamengo, Delair Dumbrosck, em um evento, tentou ressuscitar o Popeye, como mascote, junto ao Urubu, não conseguiu, o Urubu, continuou a voar soberano.
Os quatro rapazes do Leme, Luiz Octavio Vaz, Romilson Meirelles, Victor Ellery e Erick Soledade, estavam certos, transformaram o ultraje em orgulho, depois daquele 1º de junho de 1969, o Flamengo nunca mais foi o mesmo.
A torcida do Flamengo, talvez, seja a única torcida do mundo a criar o seu mascote.
Bem, até que enfim o Alfredo Melo assume a verdade que nunca quis calar: ele é o Gatinho Cruel, que agora sai de cena para dar lugar ao seu criador. Enorme criatura no sentido literal, na bondade, no caráter e no conhecimento profundo do futebol e das coisas boas da vida, inclusive pratos deliciosos. Ah, tem também a paixão pelo Botafogo cada dia maior…