Por: Alfredo Melo – O que mais agrada a Paulinho Tedesco, e a visita dos velhos e novos amigos, ao seu restaurante. Sempre bem-humorado, Paulinho recebe seus clientes e amigos com uma euforia contagiante, principalmente, quando o Flamengo vence. Paulinho gostaria de ter tempo, disponível, para se dedicar totalmente, aos seus clientes, durante a estada em seu restaurante, mas sempre na correria, fica devendo essa gentileza. Vez ou outra, calha de ter essa oportunidade, e Paulinho puxa uma cadeira, senta-se a mesa com o conviva e coloca os assuntos em dia. Companhia agradável, porem rara.
Recentemente,, essa oportunidade surgiu, quando o mais badalado craque de nossa comunidade, o Mateus, que teve seu período de maior brilho jogando pelo JOINVILLE E.C., quando por oito anos seguidos, de 1978 a 1985, o clube conquistou o título de campeão catarinense e, nosso craque brilhou na conquista de três, desses oito títulos, tendo seus gols, escolhidos por diversas vezes, pela TV GLOBO, o gol do Fantástico.
Hoje, com a idade, mantida como um segredo de estado, ainda com o corpo da época de atleta, dá a impressão, de que disputa campeonatos sub-40, mas, segundo alguns mais chegados, atualmente, disputa o sub-70. Contente com a chegada de Mateus e com o salão praticamente vazio, Paulinho, puxou uma cadeira, sentou-se ao lado de Mateus, para colocar o papo em dia.
Apesar do salão vazio, Mateus, sentou-se ao lado de uma mesa, onde um afrodescendente (politicamente correto), almoçava. Tenho um amigo a trinta e cinco anos, o Zezinho Aleixo, que quando o chamo de afrodescendente, ele xinga Dona Wanuza (minha mãe). Diz ele, quando nós nos conhecemos, todos já o chamavam, carinhosamente de Negão, então por que essa viadagem agora. Posto isso, ao lado da mesa de Mateus, estava sentado um Negão.
Paulinho queria saber, como tinha sido o jogo de domingo. Mateus contava que tinha sido um jogo muito difícil, que ele chegou ao campo com 39 graus de febre e pediu ao treinador para não ser escalado, os treinados aceitou, mas condicionou pelo menos a presença dele, uniformizado, no banco de reservas, para impressionar o time adversário. Ao terminar o primeiro tempo, o adversário vencia por 2×0, e o treinador quis saber, se dava para Mateus entrar no segundo tempo, e o craque febril, disse que não dava. Aos 25 minutos do segundo, o adversário fez o terceiro gol e o treinador em desespero, implorou, entra meu craque, são apenas 20 minutos, só você pode nos salvar. E Mateus, envaidecido entrou em campo. Nesse momento o Negão parou de comer a picanha e olhou para a mesa de Mateus.
O Negão era um caso a parte, manja o Lucão, o Negão era do mesmo tamanho, com pequenas diferenças, largura 35 cm, mais largo. Braços, os dois braços do Lucão, era um do Negão. Mateus nem reparou nesse detalhe e continuou falando sem parar. A primeira bola que eu recebi, lancei na direita pro meu lateral que subia livre e corri pra entrada da área, quando ele centrou, bati de primeira no canto direito de cima, lá onde a coruja dorme. Saco. Eram 31 minutos do segundo tempo.
Aos 37 minutos, lancei pro meu centroavante, Marquinhos Guedes, quando ele se aproximou da área, foi derrubado. Marquinhos pegou a bola para bater a falta e, o professor gritou, lá do banco de reservas, deixa o Mateus bater. O juiz autorizou, eu corri pra bola e a barreira pulou, então meti rasteira no canto de baixo. Saco.
Com 3×2 no placar o time se animou e vimos que dava. Aos 40 minutos do segundo tempo, corner pelo lado esquerdo ajeitei a criança e bati de pé trocado. Saco. Gol Olimpico.3×3. O adversário estava entregue. Continuamos pressionando e aos 46 do segundo tempo, já nos acréscimos, recebi na entrada da área, driblei o volante, driblei o zagueiro, invadi a área, o goleirão saiu e aí toquei de cobertura. Nisso o telefone do restaurante toca e Paulinho levanta pra pegar mais um delivery.
O Negão olha pro Mateus e diz, o Neguinho, se tu virar esse jogo, te encho de porrada mentiroso de uma figa. Paulinho manda a ordem para a cozinha, volta a sentar na cadeira e diz, tocou por cima do goleirão e virou pra 4×3. E com um sorriso amarelo, olhando de rabo de olho pro Negão, Mateus conclui “. Bati com um pouco de forca e a bola encobriu o goleiro e a trave.
Até que enfim o Alfredo Melo assume a verdade que nunca quis calar: ele é o Gatinho Cruel, que agora sai de cena para dar lugar ao seu criador. Enorme criatura no sentido literal, na bondade, no caráter e no conhecimento profundo do futebol e das coisas boas da vida, inclusive pratos deliciosos. Ah, tem também a paixão pelo Botafogo cada dia maior.
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