Por: Alfredo Melo – Com a instituição do AI 5, pela ditadura militar durante o governo de Artur Costa e Silva, em dezembro de 1968, teve início o período mais sombrio da ditadura. O Ato Institucional 5 deu carta branca as forças de segurança, para ampliar a campanha de perseguição e repressão contra a esquerda revolucionaria, oposição democrática e a igreja, além, da censura aos meios de comunicação.
Após o AI 5, artistas, políticos, jornalistas e intelectuais procuraram o auto exílio, inicialmente, nos países vizinhos ao Brasil, Argentina Uruguai e Chile, receberam um grande número de exilados, porém, com a instituição de regimes militares, nesses países, foram obrigados a procurarem outros países, principalmente, Cuba, México, Estados Unidos, Portugal, Espanha, França, Itália e Inglaterra.
Uma dessas artistas, a cantora Elza Soares, teve sua casa na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, metralhada com ela e os familiares dentro de casa. Assustada, decidiu se auto exilar na Itália, junto com Garrincha. Depois de uma semana em Roma, soube que sua casa foi tomada e sua mãe e seus filhos expulsos.
Em Roma, Elza e Garrincha, se tornaram vizinhos de Chico Buarque e Marieta Severo, Elza fazia shows em casas noturnas, enquanto Garrincha era convidado, para participar de jogos de exibição em Roma e nas cidades periféricas.
Sem ter como dirigir em Roma, Garrincha teve o auxílio luxuoso de Chico Buarque, que foi seu motorista entre 1969 e 1970.
Segundo Chico, Garrincha era muito famoso na Itália, quando Chico parava seu Fiat, em um sinal de trânsito e as pessoas reconheciam Garrincha, era uma loucura, o trânsito parava, as pessoas queriam tocar, falar com Garrincha. Chico adorava a agitação.
Chico e Garrincha passavam o dia todo, praticamente juntos, bebendo uma coisinha e outra e jogando conversa fora. O que mais impressionou e surpreendeu a Chico Buarque, foi quando conversando com Garrincha, descobriu que Mané, sabia tudo de João Gilberto e conhecia a obra toda do ídolo baiano. Garrincha dava detalhes de algumas gravações de João Gilberto e cantarolava (mal) os sucessos.
Como futebol era paixão mútua, os dois amigos, escalaram o ataque dos sonhos do futebol brasileiro, até 1969. Garrincha (Botafogo), Didi (Botafogo), Pagão (Santos), Pelé (Santos) e Canhoteiro (São Paulo), segundo Chico, o Garrincha da ponta-esquerda.
Bem, até que enfim o Alfredo Melo assume a verdade que nunca quis calar: ele é o Gatinho Cruel, que agora sai de cena para dar lugar ao seu criador. Enorme criatura no sentido literal, na bondade, no caráter e no conhecimento profundo do futebol e das coisas boas da vida, inclusive pratos deliciosos. Ah, tem também a paixão pelo Botafogo cada dia maior…