Por: Alfredo Melo – No início dos anos 80, o saudoso Celsão era o representante da Penalty, fábrica de material esportivo, na cidade do Rio de Janeiro. No final de 1981, recebeu autorização da empresa para contratar dois auxiliares de vendas. Eram requisitos básicos, segundo Celsão, que os candidatos, além de bons vendedores, gostassem e entendessem de futebol, afinal, trabalhariam juntos a lojistas, fanáticos por futebol e alguns ex-jogadores profissionais.
Celsão foi mais longe: contratou dois auxiliares de vendas que, além de cumprir os requisitos básicos, eram também bons de bola. Os escolhidos, Almir e Gilberto, animaram Celsão a montar um time da Penalty para a realização de amistosos em eventos esportivos, nos quais divulgariam a marca no estado do Rio de Janeiro. Celsão acreditou, com alguma reserva, quando Almir disse que havia jogado no Botafogo, no m dos anos 60 e início dos anos 70.
Torcedor do Fluminense e sem muita intimidade com assuntos botafoguenses de anos atrás, Celsão me procurou para saber se, no m dos anos 60, o Botafogo tinha algum jogador com o nome de Almir.
Sem pestanejar, falei que no time do Botafogo nunca tinha ouvido falar em nenhum jogador chamado Almir. Em 1982, no Centro de Exposições Riocentro, na Barra da Tijuca, foi realizada uma grande feira de materiais esportivos, com todas as marcas presentes com stands belíssimos. No stand da Penalty, estavam presentes o presidente da Penalty, o gerente nacional de vendas, Celsão, Almir, Gilberto, três recepcionistas e alguns modelos, que des lariam para a Penalty. Discretamente, Gilberto avisou ao Celsão que Jairzinho e Carlos Roberto, ex-jogadores do Botafogo, estavam na feira e visitando todos os stands. Era a chance de Celsão saber se Almir havia jogado mesmo no Botafogo.
Ao entrar no stand e avistar Almir, Carlos Roberto gritou para Jairzinho, que estava mais afastado: “Furacão, olha quem tá aqui!” Quando Jairzinho avistou Almir, abriu um grande sorriso e, com um abraço apertado, disse: “Zé da Média, você sumiu! Por onde você anda?” Celsão não perdeu tempo e mandou a pergunta que não queria calar: “Vocês jogaram juntos?”
Jairzinho confirmou e disse que Zé da Média não tinha muita chance naquele timaço de 67/68, mas que ele era muito escalado por Zagallo nos amistosos que o Botafogo fazia pelo interior do Brasil e no exterior.
No intervalo das partidas, Zagallo retirava quase todos os titulares e escalava a turma do “come e dorme”, jogadores que completavam o time dos reservas nos coletivos. Segundo Carlos Roberto, Zagallo gostava muito do Zé da Média e, com a saída de Zagallo, o novo treinador, paraguaio, dispensou muita gente do “come e dorme”, inclusive o Zé da Média. Celsão indagou: “Por que Zé da Média?” Segundo Jairzinho, na rua ao lado do estádio de General Severiano, havia uma padaria onde os jogadores do Botafogo, após os treinos, iam tomar sucos, vitaminas e comer sanduíches.
Um dia, o centroavante Roberto Miranda notou que Almir só pedia média com pão e manteiga. Então, resolveu perguntar o porquê. Almir falou que ganhava pouco e tinha que economizar. Roberto Miranda chamou o seu Inácio, dono da padaria, e disse: “Seu Inácio, não serve mais média com pão e manteiga pra ele.
Quando nós estivermos juntos, a despesa dele o senhor coloca junto com a minha.” Desse dia em diante, Roberto passou a chamá-lo de Zé da Média, e o apelido pegou.
Bem, até que enfim o Alfredo Melo assume a verdade que nunca quis calar: ele é o Gatinho Cruel, que agora sai de cena para dar lugar ao seu criador. Enorme criatura no sentido literal, na bondade, no caráter e no conhecimento profundo do futebol e das coisas boas da vida, inclusive pratos deliciosos. Ah, tem também a paixão pelo Botafogo cada dia maior…