
Medford, 19 de setembro de 2025
Às 18h de 17 de setembro de 2025, sob o teto de concreto da Florida State Prison em Raiford, uma seringa zumbiu como um epitáfio cruel. David Joseph Pittman, 63 anos, filho das minas poeirentas de Mulberry, foi morto por uma injeção letal – um coquetel de sedativo, paralisante e veneno que calou seu coração às 18h12, após 12 minutos. Esquecido por um sistema que nunca o viu, ele foi executado por US$ 150 pagos a um executor anônimo, na 12ª execução da Flórida em 2025, um recorde sob Ron DeSantis. O guincho caseiro que ele forjou com sucata, símbolo de um potencial esmagado, ficou para trás, enferrujado no solo vermelho de sua terra natal.
A imprensa, alinhada na sala de observação como testemunhas de um ritual frio, narrou o fim com precisão: Associated Press e NBC News descreveram Pittman respirando fundo, o peito oscilando como um motor falhando, antes de se imobilizar. “Sem incidentes”, decretou o Departamento de Correções, mas suas últimas palavras ecoaram como um grito preso: “Eu sei que vocês todos vieram para assistir a um homem inocente ser assassinado pelo Estado da Flórida. Eu sou inocente. Eu não matei ninguém.” O USA Today capturou o peso daquele momento: 34 anos de apelos, desde o divórcio que incendiou sua raiva em 1990 – esfaqueando Clarence (60), Barbara (50) e Bonnie Knowles (21), queimando a casa dos sogros e fugindo com o carro de Bonnie, rebocado por seu guincho até um campo onde o incendiou – até a rejeição final da Suprema Corte dos EUA na véspera.
Em Mulberry, Pittman não era apenas o monstro pintado pela acusação. Era o menino hiperativo, chicoteado pela mãe desde os 4 anos, marcado por abusos sexuais, filho de um pai esquizofrênico morto em um asilo e irmão de outro com o mesmo destino. Com QI baixo, colocado em classes segregadoras sem terapia, ele encontrou propósito no guincho caseiro que ele mesmo fez – uma máquina de sucata que rebocava carros, trazendo sustento onde a miséria reinava. Talvez tenha sido isso que atraiu Marie Knowles, sua ex-esposa, vendo nele um provedor em um casamento frágil.
Em 2025, com apoio, ele poderia ter sido um mecânico de YouTube, um reparador comunitário, um hiperativo genial como tantos que transformam limitações em inovação. Mas sem chances, afogou-se em álcool, drogas e raiva, culminando no massacre de 1990. Sua dificuldade intelectual não justifica o crime, mas nos faz ver sua humanidade: como você ou eu, ele queria ser útil, mas o sistema falhou antes que ele falhasse com os outros.
O xerife Grady Judd, que respondeu ao crime em 1990 e testemunhou a execução, disse: “Ele era o mal encarnado. Justiça, após 35 anos.”
O The Ledger registrou o alívio da família Knowles, com uma irmã de Barbara sussurrando “justiça servida” e sobrinhos como James Geddes chamando o dia de “agridocemente necessário”. Mas o The Guardian e a Floridians for Alternatives to the Death Penalty (FADP) ofereceram outro olhar: um homem com deficiência intelectual, esmagado por abusos e negligência, “David era um homem quebrado, não um monstro”, disseram ativistas, criticando a Flórida por sua linha de produção de mortes.
Houve redenção para David Pittman? Ele morreu como viveu, negando culpa, ou encontrou paz na Bíblia que lia? E agora, o que acontece – suas cinzas se juntam ao solo vermelho de Mulberry, ou há algo além? “Ele era o mal encarnado”, disse o xerife Judd, mas o que dizer da mãe que o chicoteou, do pai esquizofrênico que o abandonou, dos abusadores sem nome ? E o sistema de justiça, que o matou por US$ 150, é justo? O que fará o executor com esses 150 dólares – um jantar, pagar uma dívida, ou comprar um silêncio? São perguntas sem resposta, mas, na morte, somos todos iguais: humanos, frágeis, buscando sentido. Para os que creem, talvez Pittman tenha encontrado na morte a paz que a vida lhe negou, a última chance de erguer sua alma do peso do passado.
