JCEDITORES – A tensão entre o presidente Donald Trump e o bilionário Elon Musk atingiu um novo patamar com uma ameaça velada de deportação, proferida por Trump em resposta às críticas de Musk à sua política econômica e à proposta de criação de um novo partido político. O embate, que reflete divergências ideológicas e pessoais, expõe os riscos de uma retórica presidencial que flerta com a intimidação, desafiando os princípios democráticos dos Estados Unidos.
Tudo começou com as críticas contundentes de Musk ao projeto de lei orçamentária defendido por Trump, que ele apelidou de “orçamento do Porco Gastador” por prever um aumento de cinco trilhões de dólares no teto da dívida nacional. Em postagens no X, Musk classificou a proposta como “insana” e anunciou sua intenção de criar o “America Party”, um movimento político para apoiar candidatos comprometidos com a redução de gastos públicos.
Ele prometeu financiar adversários nas primárias de 2026 contra legisladores republicanos que apoiassem o projeto, intensificando a pressão sobre o partido de Trump. Essas declarações, segundo a Politico e o Hindustan Times, marcaram o início de uma escalada de tensões entre as duas figuras. Musk, CEO da Tesla e da SpaceX, também criticou a proposta de Trump de eliminar os créditos fiscais para veículos elétricos, que beneficiam sua empresa, argumentando que a medida prejudicaria a inovação e a economia americana. Suas postagens no X, incluindo uma ameaça de “fazer tudo ao seu alcance” para derrotar apoiadores do projeto, ressoaram com uma base conservadora preocupada com o déficit público, mas colocaram Musk em rota de colisão direta com Trump. Em resposta, Trump recorreu à sua plataforma Truth Social, onde lançou uma ameaça velada de deportação contra Musk.
No início da terça-feira, o presidente sugeriu que, sem subsídios governamentais, Musk “teria que fechar suas empresas e voltar para a África do Sul”. Ele ainda insinuou que o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), ironicamente liderado por Musk até maio, poderia investigar os contratos da Tesla e da SpaceX. Questionado por jornalistas, Trump reforçou a provocação, dizendo: “Não sei. Vamos ter que dar uma olhada”.
A imprensa, incluindo Bloomberg e The Daily Beast, interpretou a fala como uma tentativa de intimidar Musk, embora juridicamente improvável, já que ele é cidadão americano naturalizado desde 2002. A ameaça de Trump é particularmente preocupante por seu tom autoritário. Sugerir que um crítico pode perder sua cidadania por discordar politicamente é um ataque aos fundamentos da democracia. Além disso, a narrativa de que Musk depende exclusivamente de subsídios é enganosa: suas empresas geraram milhares de empregos e inovações que fortalecem a liderança tecnológica dos EUA.
A contradição de Trump, que defende o livre mercado, mas ameaça punir uma empresa privada por divergências, revela uma priorização de lealdades pessoais sobre princípios econômicos. A escalada do conflito tem implicações políticas significativas. Musk, com sua influência no X e apoio entre conservadores, pode desestabilizar a agenda de Trump ao financiar opositores.
Por outro lado, a retórica de deportação reforça um discurso divisivo que associa imigração a punição, mesmo contra um cidadão naturalizado, alimentando tensões sociais. A sociedade civil e a imprensa devem exigir que o debate público seja conduzido com argumentos, não ameaças. Este embate, culminando na perigosa retórica de Trump, é um alerta sobre os riscos de personalismos na política americana, que ameaçam a coesão e os valores democráticos do país.