Milhares de imigrantes hondurenhos que fogem da pobreza e da violência na Guatemala continuavam nesta quarta-feira (17) sua marcha, convictos de que chegarão aos Estados Unidos, em meio às ameaças do presidente Donald Trump de suspender a ajuda aos países centro-americanos se eles não deterem esse êxodo.
Exaustos pela longa viagem, após caminharem por horas sob o sol e a chuva, um primeiro grupo de quase mil hondurenhos encontrou refúgio na Casa del Migrante, administrada pela Igreja Católica no centro da capital guatemalteca.
Seu objetivo é recuperar forças e continuar em direção à fronteira com o México.
Outro grupo semelhante se encontra atualmente no leste da Guatemala, depois de chegar, na segunda-feira à tarde, à cidade fronteiriça de Esquipulas.
“Esse é o início de uma avalanche que está chegando, porque não suportamos mais tanta violência”, disse à AFP Denis Contreras, um dos imigrantes que fugiu de Honduras com a irmã e duas sobrinhas.
O homem, de baixa estatura e olhos claros, vestindo uma camisa da seleção de futebol de Honduras, afirmou que seu objetivo é chegar aos Estados Unidos e não voltar ao seu país, que segundo ele está mergulhado no “caos” pela violência e pela pobreza.
Além disso, retornar a Honduras seria sua sentença de morte porque fugir “é mal visto” pelas gangues.
Os mais de 2.000 imigrantes partiram no último sábado de San Pedro Sula, no norte de Honduras, após uma chamada pelas redes sociais.
Na segunda-feira, um grande contingente da polícia guatemalteca tentou impedir seu avanço, mas depois de horas de tensão, a multidão de imigrantes conseguiu chegar à cidade guatemalteca de Esquipulas e, desde então, marcharam em grupos para a Cidade da Guatemala.
O Observatório para a Proteção dos Defensores dos Direitos Humanos em Honduras denunciou a detenção do jornalista e defensor dos direitos dos imigrantes, Bartolo Fuentes, pela polícia guatemalteca enquanto acompanhava o grupo.
O presidente guatemalteco, Jimmy Morales, disse a jornalistas que este país colaborava na assistência aos imigrantes, concedendo comida e abrigo. Ele também comentou que se comunicou com o hondurenho Juan Orlando Hernández, e com o vice-presidente americano Mike Pence, para discutir os perigos e a proteção especialmente aos mais vulneráveis.
– Sonhos e esperanças –
Na quadra de esportes do abrigo para imigrantes, transformado em dormitório, Maria Ramos, de 43 anos, tomava café da manhã com sua filha de 15 anos antes de partir para um terminal de ônibus e viajar para a fronteira com o México.
A missão é passar pelo estado mexicano de Chiapas, onde o governador local, Manuel Velasco, anunciou que ajudará os imigrantes, apesar da advertência do governo federal de impedir a entrada de hondurenhos que não cumprirem as leis migratórias.
María, natural da cidade de Ocotepeque, na fronteira com a Guatemala, disse à AFP que tomou a decisão de migrar quando o grupo de imigrantes se aproximava.
“Quando vimos as pessoas chegando, decidimos vir também”, contou a mulher, que mal sobrevivia com a plantação de milho e feijão em sua comunidade, constantemente afetada por secas.
O sonho dos imigrantes é obter asilo nos Estados Unidos, trabalhar e ajudar suas famílias que permaneceram em Honduras, acrescentou Sairi Bueso, de 24 anos, com sua filha de 2 anos de idade que sofre de microcefalia.
Bueso chora ao lembrar de seus pais idosos que ficaram em Honduras e espera “trabalhar por cinco anos” nos Estados Unidos e depois voltar para sua cidade natal, El Progreso.
Com uma taxa de homicídios de 43 por 100.000 habitantes, Honduras é considerado um dos países mais violentos do mundo, principalmente pela atuação de facções criminosas e do narcotráfico, uma situação que também prevalece na Guatemala e em El Salvador.
Além disso, 68% dos nove milhões de habitantes de Honduras vive na pobreza.
– Ameaças do norte –
O novo êxodo de imigrantes ilegais não foi bem aceito em Washington, e o presidente Donald Trump ameaçou os presidentes de Honduras, Guatemala e El Salvador de acabar com a ajuda financeira que Washington lhes concede caso não parem os imigrantes.
“Se eles permitirem que seus cidadãos, ou terceiros, cruzem suas fronteiras e cheguem aos Estados Unidos com a intenção de entrar ilegalmente no país, todos os pagamentos para eles vão TERMINAR (FIM)!”, sentenciou Trump no Twitter.
Nesta quarta-feira, o presidente americano aumentou suas ameaças exigindo reformas para “as horrendas, fracas e antiquadas leis de imigração”.
O padre católico e ativista Mauro Verzeletti, diretor da Casa del Migrante, disse à AFP que o governo americano “é demagogo” com esses alertas, acusando-o de “nunca apoiar os pobres” e causar a imigração forçada.