JCEDITORES (JUNOT) – O embate entre o presidente Donald Trump e a Universidade de Harvard reflete tensões profundas sobre educação, imigração e competitividade nos Estados Unidos. De um lado, Harvard é criticada como um símbolo de elitismo, beneficiando-se de isenções fiscais e verbas públicas enquanto abriga ex-políticos e jornalistas “woke” em cargos bem remunerados. Elizabeth Warren, que alegou ser nativa americana para, supostamente, obter vantagens, e o ex-governador Deval Patrick, criticado por gastos extravagantes, reforçam a narrativa de que a universidade prioriza interesses próprios em detrimento dos esforços individuais. Além disso, a possibilidade de a prefeita de Boston, Michelle Wu, assumir um cargo na instituição após uma gestão controversa reforça a percepção de Harvard como um refúgio para elites progressistas.Nesse contexto, Trump capitaliza a insatisfação popular ao propor medidas drásticas, como a revogação da isenção tributária de Harvard e a realocação de bilhões em verbas para escolas técnicas, um movimento que atende o público que valoriza o trabalho prático e desconfia das instituições acadêmicas tradicionais.
Por outro lado, críticos alertam que as medidas de Trump, como restringir vistos de estudantes estrangeiros, podem enfraquecer a inovação americana. Figuras como Ian Bremmer argumentam que a proibição de Harvard inscrever alunos internacionais favorece rivais como a China, citando o Projeto Manhattan, impulsionado por imigrantes como Albert Einstein, e o suposto fato de que 40% das empresas da Fortune 500 foram fundadas por imigrantes. Essa narrativa, porém, é contestada: a maioria dessas empresas foi criada por americanos, com imigrantes em papéis secundários, e a China mantém competitividade com poucos estudantes estrangeiros, apoiando-se em seu capital humano interno.
A crítica ao argumento do “êxodo de cérebros” vai além, apontando que ele reflete uma visão derrotista sobre os americanos. A dependência de talentos estrangeiros, segundo essa perspectiva, mascara a incapacidade dos cidadãos americanos de formar cientistas e empreendedores, em parte devido à ênfase em disciplinas ideológicas que promovem o “wokismo” e políticas de diversidade, equidade e inclusão, vistas como ‘divisivas’.
Harvard, ao priorizar estudantes internacionais que pagam altas mensalidades, é acusada de perpetuar um ciclo em que a excelência americana é negligenciada em favor de lucros financeiros e agendas políticas. Trump, ao pressionar a universidade com medidas como a exigência de listas de estudantes estrangeiros e a ameaça de cortes financeiros, busca desafiar esse modelo, embora suas táticas sejam consideradas por alguns como excessivamente agressivas.
Em resposta, Harvard organiza eventos como o webinar “Crimson Courage”, com figuras como a governadora Maura Healey, para defender sua autonomia acadêmica. Críticos, porém, veem isso como uma tentativa de preservar privilégios de uma elite que se beneficia de recursos públicos sem responsabilidade. A proposta de Trump de investir em escolas técnicas é apresentada como uma alternativa prática, valorizando trabalhadores qualificados em vez de perpetuar um sistema que favorece os privilegiados.
Em síntese, o confronto entre Trump e Harvard reflete tensões mais profundas na sociedade americana: de um lado, a rejeição a uma elite acadêmica percebida como arrogante e desconectada; de outro, a preocupação de que medidas populistas possam comprometer a capacidade dos EUA de atrair e reter talentos globais. A narrativa do “êxodo de cérebros” é questionada como um exagero, mas o risco de desvalorizar a formação de talentos domésticos permanece. A resolução desse conflito, seja nos tribunais ou na opinião pública, terá implicações duradouras para o futuro da educação e da inovação nos Estados Unidos.