
Nessa segunda-feira, 6 de outubro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, tiveram uma conversa telefônica de cerca de 30 minutos presidente americano após meses de tarifas punitivas e troca de farpas, os dois líderes parecem ter encontrado um terreno comum – ou, pelo menos, uma química que pegou os analistas de surpresa. Trump, o mestre do espetáculo, não economizou nas redes sociais, declarando que “gostou muito” da conversa e que a “excelente química” iniciada com um abraço de 20 segundos na Assembleia Geral da ONU, em 23 de setembro, pode levar a uma “ótima parceria”. Lula, por sua vez, jogou com a habilidade de um veterano, usando o telefonema para emplacar uma narrativa de restauração das relações bilaterais. Mas, como sempre na política, o diabo mora nos detalhes.
Tudo começou com aquele momento digno de meme na ONU: Trump e Lula, improváveis aliados, trocaram um abraço que durou mais que muitos discursos da cúpula. O gesto, não agendado, veio após os dois líderes discursarem com alfinetadas mútuas – Lula chamando Trump de “imperador” e criticando sanções “arbitrárias”, e Trump acusando o Brasil de “censura judicial” contra seu amigo Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos por tentativa de golpe.
O pano de fundo? Tarifas americanas de até 50% sobre exportações brasileiras, impostas desde julho de 2025, que têm sangrado setores como aço e agronegócio. Ainda assim, o abraço virou manchete, e Trump, sempre teatral, disse no palco da ONU que “ele gostou de mim e eu gostei dele”.
Quem resiste a um plot twist desses? A ligação de 30 minutos, iniciada por Trump, foi o segundo ato. Do lado brasileiro, Lula trouxe um time de peso: o vice Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira, o ministro da Fazenda Fernando Haddad, o ministro do Desenvolvimento Regional Sidônio Palmeira e o assessor Celso Amorim. Do lado americano, Trump jogou sozinho, mas nomeou o falcão Marco Rubio, seu secretário de Estado, como interlocutor para negociações futuras. O que estava na mesa? Tarifas, parcerias e um convite para um encontro presencial – possivelmente na Cúpula da ASEAN na Malásia, na COP-30 em Belém ou até numa visita de Lula à Casa Branca. Eles até trocaram números pessoais, como velhos amigos planejando o próximo churrasco. Mas não se engane: isso é política de alto risco, com cada lado buscando tirar o máximo do outro.
Perspectivas Americanas: Desgelo com Ressalvas
Nos Estados Unidos, a mídia está intrigada, mas não exatamente apaixonada. A Reuters e o The New York Times falam em “desgelo cauteloso”, apontando que Trump, conhecido por sua imprevisibilidade, parece genuinamente impressionado com Lula. O ABC News nota que o ex-presidente viu no abraço da ONU uma chance de reescrever a narrativa com o Brasil, especialmente após as tensões com as tarifas.
A Bloomberg vai além, sugerindo que assessores de ambos os lados já trabalham numa agenda para o encontro presencial, com Rubio como peça-chave. Mas o Foreign Policy joga água fria: para os analistas, as tarifas só caem se o Brasil ceder em temas espinhosos, como abertura comercial ou garantias sobre direitos políticos – leia-se: menos pressão sobre bolsonaristas. Trump, afinal, não dá ponto sem nó. Ele pode estar estendendo um ramo de oliveira, mas é um ramo com espinhos, e o preço da paz será negociado com Rubio, um conservador linha-dura que conhece a América Latina como poucos.
Perspectivas Brasileiras: Lula Joga para o Público Interno e Externo
No Brasil, a narrativa é de vitória – pelo menos para o governo. A Folha de S.Paulo e o G1 destacam que Lula, em alta nas pesquisas após adotar um tom nacionalista contra as tarifas, transformou o telefonema num troféu diplomático. O Planalto soltou uma nota pomposa, falando em “restauração das relações de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente”. O convite para Trump na COP-30, em Belém, é visto como um xeque-mate: Lula quer mostrar que o Brasil pode ser palco global, enquanto pinta Trump como quem corre atrás.
O O Globo e a Agência Brasil reforçam que a escolha de Rubio, embora inesperada, dá ao Brasil uma linha direta com um peso-pesado do governo Trump. Mas nem tudo é samba. Nas redes sociais, especialmente no X, a polarização reina. Aliados de Lula celebram o telefonema como um “presente de aniversário” para o presidente, que coincidentemente comemorava o registro de seu partido. Já os bolsonaristas, com seus memes e hashtags, ironizam o “abraço de ficante” e acusam Lula de ceder à pressão americana. Alguns até especulam que ele “arregou” ao não insistir numa visita imediata aos EUA.
A verdade? Lula está jogando o jogo que sabe jogar: projetar força interna enquanto negocia com pragmatismo no exterior. Ele sabe que revogar as tarifas pode salvar setores cruciais da economia brasileira, mas também que qualquer concessão será escrutinada pelos eleitores.
Essa conversa é um divisor de águas, mas não um conto de fadas. Trump quer um Brasil alinhado aos interesses comerciais e políticos dos EUA – e, quem sabe, um alívio para seus aliados bolsonaristas. Lula, por outro lado, busca recuperar o espaço do Brasil no cenário global, aliviar a pressão econômica das tarifas e mostrar que pode dobrar até o imprevisível Trump. O encontro presencial, seja na Malásia, em Belém ou em Washington, será o teste final. Até lá, os dois líderes vão continuar trocando mensagens, sorrisos e, claro, estratégias. No tabuleiro da diplomacia, o abraço foi só o primeiro lance.