JUNOT (Opinião)– Em um movimento que surpreendeu pelo tom conciliador, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, durante uma reunião de gabinete na ultima sexta-feira,11, uma flexibilização nas prioridades de deportação para trabalhadores indocumentados do setor agrícola e hoteleiro. A proposta, segundo ele, permitiria que esses trabalhadores deixassem o país voluntariamente e retornassem como legais, desde que respaldados por seus empregadores. “Temos que cuidar dos nossos agricultores, hotéis e diversos setores que precisam dessa mão de obra”, declarou o Presidente que prometeu deportações em massa com uma candura que faria até o mais crédulo dos otimistas levantar uma sobrancelha.
A ideia, conforme detalhou o Trump, seria reduzir a pressão sobre esses trabalhadores, que formam a espinha dorsal de setores econômicos cruciais. Um agricultor, por exemplo, poderia apresentar uma carta atestando a dedicação de seus empregados indocumentados, garantindo-lhes uma saída “de boa fé” e, teoricamente, garantindo com isso um caminho de volta legalizado. “Trabalharemos com eles desde o início, tentando que regressem legalmente. Isso lhes dá um verdadeiro incentivo”, prometeu Trump, com o entusiasmo de quem vende terrenos na Lua. A confiança em tais palavras é um artigo raro entre os milhões de indocumentados que sustentam setores importantes da encomia. Afinal, quem, em sã consciência, arriscaria abandonar tudo com base em uma garantia verbal de um líder conhecido por mudar de tom com a mesma facilidade que troca de gravata? A Casa Branca, aliás, ainda não esclareceu como esses trabalhadores poderiam retornar sem esbarrar nas punições previstas para quem viveu sem status legal — um detalhe que, convenhamos, não inspira exatamente confiança ou fé.
Na semana passada, a secretária de Segurança Interna (DHS), Kristi Noem, reforçou o discurso ao destacar o “bom ritmo” da campanha de autodeportação incentivada pelo governo, embora números concretos sigam misteriosamente ausentes. No mesmo dia em que Trump disse que vai cuidar dos imigrantes essenciais, uma nova regra entrou em vigor, exigindo que todos os imigrantes indocumentados maiores de 14 anos, residentes há mais de 30 dias, se registrem e apresentem suas impressões digitais. O não cumprimento, segundo o governo, pode levar a penalidades severas, incluindo prisão — um contraste gritante com o discurso do “cuidado” com esses trabalhadores que Trump disse “serem essenciais”, e realmente são essenciais. Dados do Departamento de Agricultura revelam que 40% dos trabalhadores rurais são indocumentados, e o setor hoteleiro, em 2023, contava com 1,1 milhão deles. São números que mostra claramente a dependência desses setores econômicos dessa mão de obra, mas quem seria imprudente o suficiente para confiar num aceno tão vago quanto uma miragem no deserto?
Se Trump realmente acredita que imigrantes indocumentados correrão para a fronteira com base numa promessa que soa como um discurso de vendedor de ‘elixir milagroso’, então ele subestima o bom senso de quem já aprendeu, na prática, que palavras bonitas raramente vêm sem custo, principalmente a dele.
Por ora, o que prevalece é a desconfiança — este, sim, mais sólido que qualquer decreto presidencial assinado pelo atual presidente. E, finalmente, se a palavra de Trump, dentro ou fora dos Estados Unidos, carece de credibilidade, isso de deve exclusivamente a ele.
Com informações de EFE e NBC.