JSNEWS – Em um cenário de aluguéis exorbitantes, inflação galopante e salários que não acompanham o custo de vida, uma tendência alarmante ganha força entre jovens americanos: permanecer em relacionamentos insatisfatórios por não conseguirem bancar a vida de solteiro. Conhecido por “too broke to break up” (muito quebrado para terminar), o fenômeno revela como a crise econômica molda escolhas pessoais, transformando o amor — ou a falta dele — em uma questão de matemática. Cerca de 25% dos americanos, segundo pesquisas recentes, admitem adiar términos por razões financeiras, com jovens casais sendo particularmente afetados devido à instabilidade econômica característica dessa faixa etária.
O custo de vida nos Estados Unidos é o principal vilão dessa equação. Em centros urbanos como Nova York ou São Francisco, o aluguel de um studio (quarto e sala) pode ultrapassar US$ 2.000, tornando a independência financeira um sonho distante para muitos.
Para jovens casais, dividir despesas — aluguel, contas, mercado — é uma estratégia de sobrevivência. “Fiquei com meu ex por dois anos a mais porque não conseguia pagar US$ 1.200 de aluguel sozinha em Denver”, relatou uma usuária no X, dando voz a um sentimento comum entre a geração millennial e a Z.
A dependência financeira mútua, agravada por dívidas estudantis e empregos precários, cria uma armadilha. Separar-se exige enfrentar custos imediatos, como depósitos para novos aluguéis (1-2 meses adiantados), mudanças e, em casos de casamentos, custas legais de divórcio, que variam de US$ 7.000 a US$ 15.000.
Para jovens na faixa dos 25 a 35 anos, que frequentemente ainda constroem carreiras e carecem de economias robustas, esses gastos são proibitivos. O resultado é uma convivência forçada, onde casais vivem como “colegas de quarto”, mantendo relações desgastadas por necessidade.
Nas redes sociais, o tema mistura humor e desespero. Memes como “Casei por amor, mas tô ficando por causa do Wi-Fi” ou “Divórcio? Só quando ganhar na loteria!” refletem a resignação de uma geração que vê a independência como um privilégio. Mas, por trás da leveza, há uma verdade incômoda: a crise econômica não só limita escolhas amorosas, mas também amplifica vulnerabilidades, especialmente em relacionamentos que cruzam a linha do desconforto para o abuso.
Violência doméstica e relações tóxicas entre jovens
A permanência em relacionamentos por motivos financeiros, como no too broke to break up, não é apenas uma questão de conveniência; ela pode ter consequências graves, incluindo a violência doméstica e a perpetuação de relações tóxicas.
Entre jovens de 25 a 35 anos, a dependência econômica cria dinâmicas de poder desequilibradas, onde o parceiro com mais recursos pode exercer controle, às vezes escalando para abusos físicos, psicológicos ou sexuais. A National Domestic Violence Hotline (2023) aponta que 74% das vítimas de violência doméstica nos EUA citam barreiras financeiras como motivo para não deixar o agressor, um problema especialmente agudo entre jovens com menos estabilidade financeira.
A violência doméstica entre jovens casais não se limita a agressões físicas. A violência psicológica, como humilhações, manipulação ou controle financeiro, é a mais comum, afetando 89% das vítimas nessa faixa etária, segundo dados do Journal of Interpersonal Violence (2022). Em relações tóxicas, pequenos comportamentos abusivos — como xingamentos, ciúmes excessivos ou isolamento social — podem evoluir para padrões mais graves, especialmente quando a vítima não tem meios para sair. “Se ele paga o aluguel e controla o dinheiro, como você escapa?”, questionou um usuário no X, resumindo o dilema de muitas vítimas.
A desigualdade financeira agrava o risco. Quando um parceiro detém o poder econômico, ele pode usar ameaças como “Você não vai sobreviver sem mim” para manter o outro em submissão. Isso é particularmente perigoso em relações abusivas, onde o medo de ficar sem teto ou sem sustento impede a vítima de buscar ajuda. Um caso relatado pelo The Washington Post (2023) ilustra isso: uma jovem de 28 anos em Atlanta permaneceu com um parceiro violento porque seu salário de US$ 15 por hora não cobria o aluguel de US$ 1.200, e ela não tinha família para apoiá-la.