JSNEWS (JUNOT) – Os Estados Unidos, um dos principais destinos turísticos do mundo, enfrentam uma significativa redução no fluxo de visitantes internacionais em 2025. Dados recentes indicam uma queda de 9,4% nas chegadas de turistas entre janeiro e abril, com perdas econômicas estimadas entre US$ 8,5 bilhões e US$ 90 bilhões. Entre os brasileiros, a retração é ainda mais expressiva: 21,2% menos viajantes desembarcaram nos aeroportos americanos no mesmo período.
Este cenário é atribuído às políticas migratórias cada vez mais rigorosas do segundo mandato de Donald Trump, ao aumento da percepção de xenofobia e à crescente preferência por destinos alternativos, como Canadá, Portugal e outros países europeus.
Em 2024, os EUA receberam cerca de 79 milhões de visitantes internacionais, um aumento de 31% em relação ao ano anterior, conforme dados da US Travel Association. Os brasileiros contribuíram com 1,9 milhão de turistas, injetando US$ 6,3 bilhões na economia americana, o que posicionava o Brasil como o sexto maior mercado consumidor. Contudo, o cenário mudou drasticamente em 2025. A queda de 9,4% no turismo global, com recuos específicos de 14% em março e 20,2% no fluxo canadense, reflete o impacto de medidas migratórias restritivas e da retórica política inflamada.
Desde o início do ano, o governo Trump intensificou os controles nas fronteiras, com detenções arbitrárias de turistas, incluindo cidadãos alemães, canadenses e galeses, que relatam semanas de confinamento em condições precárias somadas a ampliação de proibições de viagem para até 36 países reforçam a percepção de que os EUA se tornaram um destino menos acolhedor, um lugar a se evitado.
A retórica de Trump, que inclui tarifas comerciais de 10% sobre produtos brasileiros e propostas controversas como a anexação do Canadá, alimenta o antiamericanismo global. Países como Canadá, Reino Unido, Alemanha e França emitiram alertas de viagem, desestimulando seus cidadãos a visitar os EUA. Na Suíça, 77% dos entrevistados afirmam evitar o destino devido à imagem associada ao presidente americano. Por outro lado, a hostilidade percebida contra latino-americanos, asiáticos e africanos, com relatos de discriminação racial na imigração, reforça a ideia de um país seletivo e pouco receptivo. Para o turismo LGTBIQ+, medidas como a exigência de documentação confirmando “sexo ao nascer” resultaram em uma queda de 25% nas reservas da Europa.
O Impacto no Turismo Brasileiro
Os brasileiros, historicamente atraídos pelos EUA como destino de compras, lazer e prestígio, reduziram significativamente suas viagens. A queda de 21,2% no fluxo turístico entre janeiro e abril de 2025 é atribuída a múltiplos fatores. Além das barreiras migratórias, a desvalorização do real frente ao dólar e o aumento de tarifas de importação encarecem as compras, um dos principais atrativos para esse público.
A percepção de hostilidade também desempenha um papel central: casos de brasileiros detidos na fronteira, mesmo com vistos válidos, e recomendações para levar celulares descartáveis e comprovantes de retorno criam um clima de insegurança.
A decisão de evitar os EUA ganhou contornos de posicionamento político. O movimento de “não ir” reflete uma crítica à seletividade racial e à retórica xenófoba do governo americano, sendo visto por alguns como um ato de consciência cívica. Essa tendência é reforçada pela diversificação de destinos turísticos, com países como Canadá e Portugal ganhando preferência entre os brasileiros.
Um aspecto sensível do turismo brasileiro para os EUA é a taxa de visitantes que não retornam ao Brasil, permanecendo irregularmente no país.
Em 2024, dos 1,9 milhão turistas brasileiros que entraram nos EUA com vistos (B1/B2) ou estudantes, cerca de 400 mil não voltaram, o que sugere uma taxa de overstays próxima a 20%. Embora essa cifra não seja confirmada por fontes oficiais, ela reflete a percepção de um problema persistente. A falta de dados oficiais para 2025 dificulta uma estimativa precisa, mas a intensificação dos controles migratórios pode estar reduzindo a taxa de não retorno, ao mesmo tempo em que desestimula o turismo legítimo.
Queda no Turismo Global

A queda no turismo não é exclusividade dos EUA, mas as causas variam. Na França, o fluxo de visitantes em Paris caiu 10% em 2025, devido a preocupações com segurança após ataques terroristas e protestos trabalhistas. Ainda assim, o país mantém cerca de 80 milhões de turistas anuais, incluindo 700 mil brasileiros. A Itália, por outro lado, registra estabilidade, com um aumento de 3% no turismo, beneficiada por roteiros culturais e políticas migratórias menos restritivas. O Reino Unido enfrenta uma queda de 7%, atribuída às incertezas do Brexit e ao aumento de custos, enquanto Turquia e Egito registram reduções de 8% e 12%, respectivamente, devido a instabilidade política e conflitos regionais.
Diferentemente dos EUA, onde as políticas migratórias e a xenofobia são os principais fatores, outros destinos sofrem com questões econômicas, de segurança ou geopolíticas. Países com políticas mais acolhedoras, como Canadá (crescimento de 5% no turismo em 2025) e Portugal (aumento de 12%), destacam-se como alternativas atraentes, especialmente para brasileiros.
Com a redução do interesse pelos EUA, brasileiros estão diversificando seus destinos turísticos e, em menor grau, migratórios. Abaixo, os principais destinos e suas taxas de não retorno:
- Canadá: Em 2024, cerca de 600 mil brasileiros visitaram o país, com um aumento de 10% em 2025. A facilidade de vistos, programas de estudo e trabalho, e a percepção de segurança institucional atraem turistas e imigrantes. A taxa de não retorno é estimada em menos de 5%, devido à fiscalização eficiente e à menor atratividade para permanência irregular.
- Portugal: O destino recebeu 800 mil brasileiros em 2024, com crescimento de 12% em 2025, impulsionado por laços culturais, facilidade linguística e 102 voos semanais conectando o Brasil. Dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) sugerem que cerca de 10% dos brasileiros com vistos temporários permanecem irregularmente, mas a regularização facilitada (como vistos D7) mantém a taxa estável.
- França: Com 700 mil visitantes brasileiros em 2024, a França mantém estabilidade em 2025. A taxa de não retorno é inferior a 5%, devido aos controles do Espaço Schengen e ao alto custo de vida, que desestimula overstays.
- Itália e Espanha: Cerca de 500 mil e 400 mil brasileiros visitaram esses países em 2024, respectivamente, com crescimento de 5-7% em 2025. As taxas de não retorno são estimadas em menos de 10%, refletindo a integração no Espaço Schengen.
- Austrália: Aproximadamente 200 mil brasileiros visitaram o país em 2024, atraídos por vistos de trabalho e estudo. A taxa de overstays é cerca de 8%, com muitos convertendo vistos temporários em residência.
A diversificação de destinos turísticos indica uma clara substituição dos EUA, especialmente por Canadá e Portugal, mas a tendência é menos pronunciada no contexto migratório. As taxas de não retorno nos destinos alternativos (5-10%) são significativamente menores que nos EUA (estimados 20%), refletindo políticas migratórias mais reguladas e oportunidades de regularização. Não há evidências de um aumento significativo dessas taxas em 2025, sugerindo que brasileiros preferem destinos onde podem retornar ou obter residência legalmente.
Um Novo Mapa Turístico para os Brasileiros
A queda de 21,2% no turismo brasileiro para os EUA em 2025 reflete o impacto das políticas migratórias rigorosas, da xenofobia percebida e da diversificação de destinos. Enquanto os EUA enfrentam uma crise turística sem precedentes, países como Canadá, Portugal e membros da União Europeia ganham espaço como alternativas seguras e acolhedoras.
A estimativa de 20% de brasileiros que não retornam dos EUA, embora baseada em dados não oficiais, destaca a complexidade do fenômeno migratório, que contrasta com taxas menores em outros destinos. A tendência de substituição dos EUA é clara no turismo, mas a migração irregular está diminuindo, à medida que brasileiros buscam regularização em países com políticas mais humanas. O futuro do turismo global, e especialmente do brasileiro, aponta para um mapa mais diversificado, onde a segurança e o acolhimento prevalecem como valores fundamentais.