JSNEWS – O Senado dos Estados Unidos confirmou a deputada Deb Haaland como secretária do Interior do país, tornando-a a primeira indígena a chefiar uma pasta no gabinete, e garantindo a ela um papel central nos planos gerais do presidente Joe Biden de combate às mudanças climáticas.
O Senado dos EUA confirmou a democrata do Novo México em uma votação por 51 a 40 após ela conseguir apoio de republicanos, entre eles o senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul, e das senadoras Lisa Murkowski, do Alasca, e Susan Collins, do Maine.
A ascensão de Haaland ao gabinete é o resultado de semanas de campanha por nativos-americanos e grupos ambientais que apoiam sua indicação histórica. Ela enfrentou a resistência de parlamentares republicanos por suas visões sobre a indústria do petróleo.
Na audiência de dois dias no mês passado em comitê do Senado, republicanos a pressionaram por seu envolvimento em protestos contra oleodutos, apoio à resolução climática chamada de “Green New Deal” e pela pausa do governo Biden sobre novas concessões federais para perfuração.
Haaland irá supervisionar políticas orientando o uso de milhões de hectares de terras federais e indígenas. Originária do povo Laguna, Haaland irá comandar a relação do governo norte-americano com 574 povos indígenas reconhecidos.
Mensagem ao Brasil
Deb Haaland se tornou uma das principais críticas do Presidente brasileiro Jair Bolsonaro dentro do Partido Democrata e tem exercido influencia em figuras proeminentes da politica americana, como o senador Bernie Sanders e a deputada Alexandria Ocasio-Corteza. Seu discurso indigenista e de proteção aos povos indígenas coloca Haaland em rota de colisão com o mandatário brasileiro. Ela passou a atuar tanto na pressão pública direta ao Presidente Bolsonaro, quanto na proposição de medidas contra os interesses do governo brasileiro no Congresso americano.
“Continuaremos colocando Bolsonaro na fogueira enquanto ele cometer violações dos direitos humanos, seguir no esforço para destruir a Floresta Amazônica e colocar nosso planeta em risco de um desastre climático ainda maior“, afirmou Haaland em uma reportagem publicada essa semana na BBC NEWS BRASIL.
Como parlamentar, Haaland tentou, por exemplo, barrar a aprovação do status do Brasil como aliado militar extra-OTAN, uma das conquistas mais comemoradas pelo Itamaraty sob Bolsonaro, e nas últimas semanas, ela se empenhou em cortar do Orçamento de Defesa dos EUA a previsão de verba pública para o acordo de salvaguardas tecnológicas entre Brasil e Estados Unidos, que deve viabilizar lançamentos de satélites americanos da base de Alcântara, no Maranhão. Para a parlamentar, a base de Alcântara ocupa parte de uma área em disputa com povos nativos.
Em maio de 2019, pouco depois do anúncio do acordo para uso da base de Alcântara, Haaland conseguiu angariar assinaturas de 54 congressistas americanos (do partido democrata) para uma carta enviada ao secretário de Estado americano, Mike Pompeo, na qual alertava para “violações dos direitos humanos de comunidades indígenas e quilombolas no Brasil“. Meses antes de coletar as assinaturas, a política americana recebeu no Congresso dos EUA as parlamentares oposicionistas Erika Kokay (PT-DF) e Fernanda Melchionna (PSOL-RS).
Em junho desse ano, voltou à carga com uma carta enviada ao presidente da Câmara brasileira, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em que pedia a derrubada de um projeto de lei que previa ampla regularização fundiária na Amazônia e que acabou batizado pelos críticos de “PL da Grilagem“.
“Entendemos que esse projeto é muito prejudicial para a floresta amazônica, uma vez que legalizará grandes áreas de terras públicas que já foram ocupadas e desmatadas ilegalmente“, escrevia Haaland, na carta assinada por 18 de seus colegas.
No mesmo período, seus colegas da Comissão de Orçamento e Tributos da Câmara enviaram comunicação às autoridades comerciais americanas dizendo que se opunham a qualquer avanço em tratados comerciais com o Brasil de Bolsonaro.
E em dezembro, Haaland assinou com outros 21 colegas uma carta que qualificava as políticas de Bolsonaro como “antidemocráticas e xenófobas“.
Como o poder de parlamentares como Haaland pode afetar o Brasil de Bolsonaro?
É difícil dimensionar o poder desse grupo de parlamentares americanos do qual Haaland é uma liderança. Isso porque, diferente do Brasil, o presidente americano depende essencialmente do legislativo para aprovar medidas centrais e por enquanto a Câmara é a única das duas casas que os democratas controlam por enquanto — a maioria no Senado para o próximo ano ainda está indefinida.
Considerado um moderado e centrista entre os Democratas, Biden terá que fazer concessões à ala mais à esquerda do partido para poder governar.
E um tema no qual seria mais fácil chegar a um consenso é justamente a agenda ambiental, na qual Bolsonaro é visto como um antagonista.
O negacionismo climático que uniu Bolsonaro a Trump simplesmente não funcionará com Biden, que priorizará ações climáticas globais e ambiciosas, incluindo a proteção da floresta Amazônica, Biden já disse que planeja oferecer ao Brasil 20 Bilhões de dólares para ajudar na “preservação ambiental” da grande floresta brasileira.