Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
Uma campanha do município de Morón, na periferia oeste de Buenos Aires, recomenda aos jovens “usar um pouquinho de cocaína para ver como o corpo reage”. Também indica que, ao consumir maconha, é preciso comprá-la de um fornecedor confiável. Especialistas e críticos classificam a iniciativa como um incentivo às drogas.
“Lembre-se destes conselhos: maconha é melhor em flores e de fontes confiáveis. Com a cocaína e com as drogas sintéticas, vá aos poucos e devagar. Use um pouquinho para ver como o seu corpo reage”. A recomendação consta em panfletos de uma campanha do Departamento de Políticas para a Juventude do município de Morón, a principal cidade da periferia oeste de Buenos Aires, governada pelo prefeito Lucas Ghi, aliado da vice-presidente Cristina Kirchner.
As polêmicas indicações, distribuídas no último fim de semana, durante um festival cultural, recreativo e gastronômico, causaram indignação tanto em especialistas quanto na oposição.
“As campanhas de redução de riscos e de danos devem promover hábitos saudáveis e o cuidado da saúde. Nunca o consumo de drogas, como neste caso”, criticou Carlos Damin, doutor pesquisador de Toxicologia na Faculdade de Medicina de Buenos Aires e Chefe de Toxicologia no Hospital Fernández, uma referência na capital argentina. “Quando recomendam ir aos poucos [com a cocaína], estão dizendo como se iniciar no consumo de drogas”, interpreta Damin.
“Uma coisa é uma política de redução de danos; outra é promover o consumo num lugar onde havia crianças. Isto não foi um erro. É uma política”, acusou a deputada e ex-governadora de Buenos Aires, María Eugenia Vidal.
O deputado Waldo Wolff, da coligação opositora Juntos pela Mudança, anunciou que vai apresentar uma denúncia penal contra as autoridades de Morón por “delitos de incitação” e por “apologia às drogas”.
Jorge Macri, ministro do Distrito Federal de Buenos Aires, acusou a campanha de “promover o consumo entre os jovens”.
Programa de redução de riscos
Através de uma nota, o município de Morón justificou a campanha ao explicar que “faz parte de um programa de redução de riscos e de danos associados ao consumo de substâncias psicoativas legais e ilegais que procura proteger, através de informações úteis, a saúde de quem consome drogas”.
O secretário de Saúde do município, Martín Latorraca, argumentou que “o projeto está orientado a um público consumidor de drogas”, embora no festival onde os planfletos foram distribuídos a maioria dos frequentadores era famílias com crianças.