Por – Associated Press
Um vídeo divulgado nesta quarta-feira (2) mostra o momento em que policiais colocam um capuz na cabeça de um homem negro, identificado como Daniel Prude. O caso aconteceu em Rochester, no estado de Nova York, nos EUA, no dia 23 de março. Prude morreu um semana depois, em 30 de março, por asfixia.
A divulgação das imagens ocorre em meio ao debate sobre a violência policial e o racismo nos Estados Unidos. O país vive uma onda de protestos desde a morte de George Floyd, em maio. Os atos ganharam novo impulso recentemente após policiais balearem sete vezes Jacob Blake pelas costas.
No caso de Prude, a polícia foi acionada pela própria família da vítima, que buscava ajuda por causa de supostos problemas mentais do homem.
As imagens divulgadas pela família do homem nesta quarta-feira (2) mostram Prude nu, cooperando com os policiais e atendendo às ordens de ficar no chão. Ele estava com as mãos atrás das costas, algemado. Nevava em Nova York, e ele pediu para que os agentes o deixassem ir.
Ainda preso no chão, Prude começou a se contorcer e a gritar para que os policiais o liberassem. Em um momento, quando já estava algemado, ele grita: “Me dá sua arma, vou precisar“.
É aí que os agentes de segurança colocam sobre a cabeça do homem um capuz para evitar que a saliva do preso escape e alcance os policiais. A medida se tornou padrão com a pandemia do novo coronavírus, e, na época, em março, Nova York vivia o início da fase mais grave do surto.
Prude, então, começou a se debater e a implorar para que os policiais o liberassem. Um deles segurou a cabeça do homem sobre o asfalto, apertando o capuz, enquanto outro se ajoelhou sobre as costas da vítima. Essa ação durou cerca de dois minutos. Policiais chegaram a rir enquanto ele se debatia no chão.
Sem ar, Prude parou de gritar. Somente quando começou a sair água da boca do detido é que os policiais demonstraram preocupação. No fim do vídeo, uma ambulância é vista, e médicos fazem procedimentos de reanimação para tentar salvar o homem.
Um médico concluiu que a morte de Prude foi um homicídio causado por complicações de asfixia por ação física. O relatório aponta como fatores complicadores a situação de delírio em que Prude estava e a intoxicação por fenciclidina, droga analgésica que causa alucinações.
Irmão chamou a polícia
De acordo com a agência Associated Press, Daniel Prude morava em Chicago e havia acabado de chegar em Rochester para visitar a família. O irmão Joe Prude ligou para os serviços de emergência para avisar que Daniel tinha saído de casa com aparentes problemas de saúde mental.
“Eu telefonei para pedir ajuda para o meu irmão. Não para ele ser linchado“, disse Joe em entrevista.
A investigação está a cargo da procuradora-geral de Nova York, Letitia James — pela lei local, mortes de pessoas desarmadas em ações policiais vão para inquérito estadual.
Um policial argumentou que colocou o capuz porque Prude cuspia na direção deles e que eles estavam preocupados com uma eventual contaminação pelo novo coronavírus.
Joe Prude, o irmão que avisou as equipes de emergência, criticou a ação policial em entrevista nesta quarta. “Como vocês o veem e não dizem: ‘O homem está sem defesas, preso e nu no chão. Ele já está algemado’? Por favor!“, questionou. “Quantos mais irmãos vão morrer até a sociedade entender que isso precisa parar?”