Por: Edel Holz – Minha prima Érika era fisioterapeuta dele e pedi que ela me apresentasse a ele porque queria que ele lesse meu texto : Ali- onde Judas Perdeu as Botas – super mineiro como nos dois e me desse sua opinião.
Ele tinha mania de perguntar: Quantos livros você leu?
E comigo ele caiu do cavalo.
Disse: Mais de mil, entre toda a coleção de Shakespeare e Nelson Rodrigues.
Só conversávamos por telefone. Um dia, soube que estava lançando a revista Bundas e liguei pra ele. “Ziraldo… tenho um texto pra Bundas”.
E ele: “Qual o tema?”
Eu: “O Pinto”.
Ele: “Me encontra em 10 minutos na Bulhões de Carvalho!”.
E foi assim que nos conhecemos pessoalmente. Ele leu o texto, gostou, mas disse que não iria publicar porque não cabia na revista. Eu defendendo meu peixe: “Como não? Pinto e bundas tem tudo a ver!”. Mas ele como mineiro machista não deixou o texto entrar na pauta do mês. O lançamento da revista foi em Copa e sem ar condicionado, entupido de gente.
A nata da classe artística desde Millör Fernandes a Fernanda Montenegro que disse: “um bando de homens maduros bancando os adolescentes nesta revista. Vocês pularam fase?”.
Na semana seguinte, liguei pro Zira e disse: “Vou gravar hoje o Jô onze e meia em Sampa”.
E ele: “Antes me encontra em tal lugar porque você vai ser capa da Bundas! Ele e Jaguar dirigiram a sessão de fotos enquanto o fotógrafo capturava a melhor cara”.
Era uma sátira à Ana Paula Arosio em ocasião à campanha do novo DDD 021. Falei no Jô da minha capa da Bundas e coincidentemente foi a edição mais vendida de todas. No mês seguinte, o Radical chic Miguel Paiva me dirigiu numa foto que o porteiro do prédio me carregava no colo.
Os funcionários do Ziraldo eram familiares, desde o motorista à secretaria Regina, todos parentes.
Regina era uma peça rara e ainda lia cartas. Ela me disse que mudaria pro exterior. Ziraldo e eu tínhamos um amor enorme um pelo outro. Carinho puro.
Em 2015 liguei pra ele no seu niver de 85 e me disse: “Tô ficando velho e não tô gostando disso”.
Seus coletes diversificados e seu cabelo platinado eram sua marca registrado.na sua casa na Baronesa de Pokoné no Humaitá, pertinho da Lagoa, tinha seu estúdio com seus personagens memoráveis nos recebendo: Supermãe, Turma do Pererê e claro – O menino maluquinho!
Liguei pra ele pedindo sua autorização pra adaptar o menino maluquinho aqui é ele me deu. Foi um sucesso e mandei tudo pra ele: fotos, prêmios e as críticas da peça. Todas maravilhosas. Ele se mostrou orgulhoso de mim. Sua dedicatória na minha capa da Bundas: “Para Edel- minha chapinha, minha Bsla perdida”.
Dentro da revista, uma foto linda minha que ele havia tirado pruma outra revista sua Palavra: “A Gatota tá capa: Edelweiss Lemos tão loura como seu nome tirolês . O cabelo preto é computação gráfica”.
A notícia de sua passagem, me pegou de surpresa e todos esses momentos vieram à tona. Irreverente, amigo, querido, engraçado, e tão amado… um gigante das caricaturas, dia desenhos e da literatura infantil.
Tenho sorte em ser sua contemporânea e tê-lo conhecido tão de perto… Vai em paz, Zira querido! Que missão bonita a sua nessa Terra! E assim comecei a escrever a peça “O menino maluquinho“ Caratinga é uma cidade do interior mineiro.
O povo é gentil e hospitaleiro lá nasceu um menino muito especial que virou um cara muito legal. Seu nome é Ziraldo Pinto. Mas era conhecido desde pequenininho como “O Menino Maluquinho”! Te amarei pra sempre!
SOBRE A COLUNISTA: Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e de mente efervescente Edel.