Eliana Pereira Ignacio
Olá, meus caros leitores. Dando continuidade à nossa minissérie sobre autoestima, quero convidá-los hoje a refletir sobre algo que parece simples, mas é profundamente transformador: o valor de ser quem se é — sem precisar competir, provar ou corresponder a expectativas alheias. Em um mundo movido por comparações, onde o “melhor” parece sempre estar fora de nós, a paz interior se torna um ato de resistência.
Muitas pessoas chegam à terapia com o mesmo lamento disfarçado em diferentes palavras: “Sinto que nunca sou o suficiente.” Esse sentimento não nasce da falta de valor, mas da desconexão com a própria essência. Na psicologia clínica, especialmente dentro da abordagem cognitivo-comportamental (TCC), trabalhamos para identificar as crenças centrais que moldam a forma como o indivíduo se enxergam. Crenças como “preciso ser perfeito para ser amado” ou “só serei aceito se não decepcionar ninguém” são gatilhos comuns de ansiedade e autocrítica.
O processo terapêutico ajuda o cliente a substituir essas distorções cognitivas por pensamentos mais realistas e compassivos. Como dizia Aaron Beck, criador da TCC, “a forma como pensamos sobre o que nos acontece determina como nos sentimos e agimos.” A autoestima equilibrada surge quando aprendemos a nos acolher, e não a nos julgar. Quando a comparação cede espaço à aceitação, nasce a liberdade emocional.
A pessoa deixa de buscar validação no olhar do outro e começa a encontrar significado em sua própria história. Desta forma sai da competição à compreensão. Na prática clínica, observo que muitos dos que vivem em constante comparação carregam feridas antigas — muitas vezes invisíveis. São memórias de infância marcadas por cobranças, rejeição ou ausência de afeto.
O adulto que cresce com essas marcas tenta compensar a dor buscando aprovação. Mas a cura acontece quando ele reconhece que não precisa mais provar seu valor: ele já é su ciente. É nesse ponto que a autoestima encontra a paz — quando a pessoa descobre que não precisa vencer ninguém para estar bem.
Como ensinava Carl Rogers, “quanto mais a pessoa aceita a si mesma, mais fácil é mudar.” Ou seja, a transformação genuína não vem da competição, mas da compreensão amorosa de quem somos.
Em terapia, trabalhamos isso por meio da reconstrução narrativa, ajudando o indivíduo a recontar sua própria história sob uma nova luz — não como vítima de falhas, mas como protagonista de um processo de crescimento. Esse tipo de abordagem promove autoaceitação, autocompaixão e perdão interno, fatores essenciais para a saúde emocional.
Na perspectiva da fé, essa jornada tem uma base ainda mais profunda. A autoestima saudável nasce da consciência de que somos criação divina, amados antes mesmo de realizar qualquer coisa. O cristianismo nos ensina que o valor humano não depende de desempenho, beleza ou conquistas, mas da essência que Deus colocou em cada um. Quando compreendemos isso, libertamo-nos da comparação e passamos a viver com propósito.
A paz de ser quem se é vem da certeza de que não precisamos competir por amor, porque o amor já nos foi concedido. A fé também nos convida à aceitação da imperfeição, não como fraqueza, mas como espaço para o agir de Deus. Como afirma a psicóloga cristã Mary Ellen Copeland, “a verdadeira autoestima se constrói quando reconhecemos que somos falhos, mas profundamente amados mesmo assim.”
A RENOVAÇÃO DA MENTE: ONDE PSICOLOGIA E FÉ SE ENCONTRAM
A Bíblia nos orienta a renovar a mente — e esse é também o cerne de muitas abordagens terapêuticas modernas. Em Romanos 12:2, lemos: “Não se conformem com o padrão deste mundo, mas transformem- -se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” A renovação mental é, portanto, um processo espiritual e psicológico. Ela ocorre quando deixamos de nos definir pelos parâmetros da sociedade e passamos a nos perceber através do olhar de amor e graça. Na psicologia, chamamos isso de reestruturação cognitiva; na fé, chamamos de cura da alma.
Ambos apontam para a mesma verdade: a paz nasce quando nossa identidade está armada em quem somos, não no que fazemos. Em suma encontrar valor em ser quem se é não significa se acomodar, mas reconhecer que o crescimento nasce da paz, não da pressa; do amor, não da comparação. A autoestima verdadeira não grita para ser ouvida — ela floresce no silêncio da aceitação.
Ser quem você é — sem máscaras, sem medo e sem necessidade de competir — é um dos atos mais espirituais e curativos que existem. E quando essa verdade se enraíza no coração, a comparação perde força, o julgamento perde voz e a paz finalmente encontra morada.
“Vocês são o sal da terra e a luz do mundo.” — Mateus 5:13-14
Que este lembrete ecoe em sua alma: você não precisa competir para brilhar — apenas ser quem Deus o criou para ser.
Até a próxima semana !!!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com


