
O presidente Donald Trump realizou uma reviravolta surpreendente na noite desse domingo,16, ao incentivar deputados republicanos na Câmara dos Representantes a aprovarem a liberação integral dos arquivos relacionados ao caso do financista Jeffrey Epstein, condenado por tráfico sexual e morto em 2019. Em postagem na plataforma Truth Social, Trump escreveu: “Os republicanos da Câmara deveriam votar pela liberação dos arquivos de Epstein, porque não temos nada a esconder”. A declaração marca uma mudança em relação à sua posição anterior, quando descrevia o tema como uma “farsa democrata” destinada a desviar a atenção de conquistas do Partido Republicano.
A votação sobre a petição de descarga, liderada pelo deputado republicano Thomas Massie, de Kentucky, e pelo democrata Ro Khanna, da Califórnia, está agendada para esta terça-feira, 18. A iniciativa força o Departamento de Justiça (DOJ) a divulgar documentos não classificados sobre Epstein, incluindo e-mails e registros de voos. Estima-se que mais de 40 republicanos possam apoiar a medida, apesar de resistências iniciais no partido, o que poderia garantir sua aprovação em uma Câmara controlada pelos republicanos (219 a 214 assentos).
Trump, que manteve amizade com Epstein nas décadas de 1990 e 2000 – incluindo visitas ao Mar-a-Lago e voos no avião apelidado de “Lolita Express” –, tem negado qualquer envolvimento em irregularidades. Ele instruiu o DOJ a investigar supostas ligações de Epstein com democratas proeminentes, como o ex-presidente Bill Clinton, e destacou que “dezenas de milhares de páginas” já foram divulgadas. “O Comitê de Supervisão da Câmara pode ter o que lhe é legalmente devido, eu NÃO ME IMPORT O!”, escreveu, enfatizando que sua prioridade é a economia.
A controvérsia ganhou força na semana passada com a divulgação de e-mails do espólio de Epstein pela Comissão de Supervisão da Câmara, incluindo um que sugeria que Trump “sabia das garotas”. O presidente classificou as mensagens como “farsa” e parte de uma estratégia de “lunáticos da esquerda radical” para distrair de vitórias republicanas recentes, como a resolução de uma crise de shutdown governamental.
A mudança de Trump ocorre em meio a fissuras no GOP. Na sexta-feira, ele retirou apoio à deputada Marjorie Taylor Greene, da Geórgia – uma aliada de longa data –, após críticas dela à liderança republicana no manejo dos arquivos de Epstein. Greene questionou se Trump ainda priorizava a “América em Primeiro Lugar“. Já o presidente da Câmara, Mike Johnson, endossou a liberação no domingo, afirmando à Fox News que “Trump tem as mãos limpas” e que a votação ajudaria a dissipar alegações infundadas.Massie, em entrevista ao ABC’s “This Week”, previu que “100 ou mais” republicanos poderiam votar a favor, acusando Trump de proteger “amigos ricos e poderosos, bilionários e doadores de campanha”.
Khanna reforçou que o esforço é bipartidário e não motivado politicamente, citando sobreviventes de Epstein que pressionam pela transparência.O DOJ confirmou uma investigação sobre laços de Epstein com bancos e figuras democratas, mas negou a existência de uma “lista de clientes” formal. Epstein foi encontrado morto em sua cela em Nova York em 2019, em um caso classificado como suicídio pelo legista.
Trump e Epstein socializaram em eventos de elite nos anos 1990, mas o presidente alega que romperam antes das condenações de Epstein em 2008 por solicitação de prostituição de menor. Documentos liberados recentemente mostram Epstein acreditando que Trump “conhecia as garotas”, embora o contexto permaneça obscuro. Trump nunca foi acusado de irregularidades no caso. A American Latino Veterans Association (ALVA) e outros grupos de defesa de vítimas saudaram a possível liberação como um passo para a accountability, mas alertam para atrasos potenciais no Senado. “A transparência é essencial para combater narrativas falsas sobre contribuições de minorias à defesa nacional”, disse Raúl Danny Vargas, presidente da ALVA, em declaração separada.


