Nova York (EUA) – Em um confronto que expôs as tensões crescentes entre ativistas locais e autoridades federais de imigração, centenas de manifestantes em Nova York frustraram uma operação planejada da Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) no sábado (29 de novembro de 2025), levando a distúrbios e múltiplas prisões na periferia de Chinatown, em Lower Manhattan. O incidente, o segundo de grande escala em pouco mais de um mês na área, marcou uma resistência organizada contra as deportações em massa da administração Trump, transformando uma garagem governamental em palco de um embate entre protestos espontâneos e forças policiais.
De acordo com relatos da THE CITY e da Yahoo News, cerca de 200 manifestantes se reuniram do lado de fora de uma garagem da Administração de Serviços Gerais (GSA), na esquina da Canal Street com Centre Street, após alertas nas redes sociais sobre a presença de dezenas de agentes da ICE – muitos deles mascarados e armados – preparando-se para uma batida em larga escala contra imigrantes indocumentados.
Os ativistas, incluindo membros da New York Immigration Coalition, bloquearam veículos federais, entoaram gritos de “ICE fora de Nova York!” e ergueram cartazes defendendo os mais de três milhões de imigrantes da cidade, essenciais para sua economia e vitalidade cultural.
Escalada da Tensão: De Bloqueio a Confronto
O que começou como uma vigilância comunitária evoluiu para um impasse dramático. Manifestantes tentaram impedir a saída dos vans da ICE em direção ao Túnel Holland, jogando lixeiras, vasos de plantas e detritos em direção aos agentes, conforme vídeos obtidos pela ABC News e pela Fox News.
A Polícia de Nova York (NYPD), chamada para lidar com o “grupo desordeiro bloqueando a rua”, interveio para abrir caminho aos federais, resultando em pelo menos 12 a 15 prisões por desordem, obstrução e agressão, segundo comunicados oficiais da NYPD e relatos da NY1.
Agentes da NYPD liberaram spray de pimenta para dispersar a multidão, enquanto o Grupo de Resposta Estratégica (SRG) – unidade antiterrorismo da polícia – formou uma barreira para escoltar os veículos da ICE. “A NYPD foi chamada e respondeu a centenas de manifestantes violentos, resultando na prisão de múltiplos agitadores”, afirmou um porta-voz da polícia à Yahoo News.
Nenhum agente federal ou policial foi ferido, mas o episódio gerou acusações de colaboração indevida, violando as leis de santuário de Nova York, que proíbem a cooperação local com a ICE em prisões civis. O conselheiro municipal Christopher Marte, que correu para o local ao saber do confronto, criticou a ação: “É desprezível ver a NYPD – especialmente o SRG – limpando o caminho para agentes da ICE realizarem prisões em nossa cidade”.
Murad Awawdeh, presidente da New York Immigration Coalition, exigiu a libertação imediata dos detidos e o fim de qualquer assistência policial aos federais: “Centenas de nova-iorquinos se reuniram para se opor à ICE, e a NYPD deve parar de colaborar”.
Contexto: Segunda Frustração em um Mês
Esse distúrbio lembra uma operação anterior em 21 de outubro na mesma Canal Street, onde a ICE deteve nove imigrantes africanos por crimes como contrabando de mercadorias falsificadas, resultando em cinco prisões de manifestantes que tentaram impedir os agentes.
Desta vez, porém, a resistência prévia impediu a batida: os agentes da ICE abortaram o plano e deixaram a área sem realizar detenções de imigrantes, de acordo com fontes da TIME e da Naked Capitalism.
A ação ocorre em meio a um aumento de 30% nas operações da ICE em Nova York desde o início de novembro, focando em áreas como Chinatown e Corona (Queens), onde imigrantes de origem asiática e latina são alvos frequentes.
O prefeito eleito Zohran Mamdani, através de sua equipe de transição, reiterou o compromisso com as leis de santuário: “Nova York protegerá os direitos e a dignidade de todos os nova-iorquinos, priorizando a desescalada em vez de força desnecessária”.
Reações e Implicações Nacionais
Nas redes sociais, o incidente viralizou com hashtags como #ICEOutOfNY e #ChinatownStandsUp, acumulando milhões de visualizações em vídeos de ativistas bloqueando vans federais.
Analistas, como Barry Friedman, professor de direito da NYU, destacam os limites do poder local: “O governo federal tem autoridade ampla para ações de imigração, mas protestos como esse testam os limites da resistência comunitária”.
Esse episódio em Nova York – uma das cidades mais imigrante-friendly dos EUA – sinaliza desafios crescentes para a agenda de deportações de Trump, que visa um milhão de remoções anuais. Enquanto Chinatown recupera a calma, os distúrbios servem de alerta: em uma metrópole dividida, o “fim de semana patriótico” pode se transformar rapidamente em confronto pela sobrevivência de comunidades inteiras.


