JSNEWS: Nova Orleans, 24 de novembro de 2025 –
Em uma cidade que já enfrentou furacões devastadores, vazamentos de petróleo e até um ataque terrorista na virada do ano de 2025, os imigrantes de Nova Orleans agora se preparam para o que chamam de “desastre humano”: uma operação massiva de imigração liderada pelo oficial de alto escalão da Patrulha de Fronteira, Gregory Bovino, com cerca de 250 agentes federais. Batizada internamente de “Swamp Sweep” (Varredura do Pântano), a ação está programada para começar na primeira semana de dezembro, após uma pausa estratégica durante o feriado de Ação de Graças, segundo fontes do Departamento de Segurança Interna (DHS) e relatos de veículos como Associated Press e Reuters.
Mas, mesmo sem uma única prisão ligada à operação até agora, o medo já paralisou bairros inteiros, com famílias estocando comida, cancelando turnos de trabalho e treinando direitos civis – uma lembrança das preparações para o Furacão Katrina, que 20 anos atrás deixou 80% da cidade submersa.
Rachel Taber, voluntária da União Migrante, um grupo de defesa liderado por imigrantes, descreve o clima como “pânico absoluto e terror”. “As pessoas estão agindo como se fosse um furacão: comprando mantimentos, trancando as portas, planejando não ir ao trabalho por dias ou semanas”, conta ela à CNN, em relatos corroborados por ativistas locais e postagens virais no X (antigo Twitter), onde hashtags como #SwampSweep e #NOImmigrantsResist acumulam milhares de compartilhamentos.
A cidade de 307 anos, um oásis azul em um estado republicano liderado pelo governador Jeff Landry, torna-se o novo alvo da agenda de deportações em massa prometida pelo presidente Donald Trump – uma estratégia que, analistas apontam, mistura repressão real com teatro político para agradar a base eleitoral conservadora. Nos últimos sete dias (de 17 a 24 de novembro), o ICE (Imigração e Alfândega dos EUA) registrou apenas 15 detenções na Louisiana, todas em ações rotineiras, como uma batida conjunta com o FBI no cais de barcos de Kenner, nos subúrbios de Nova Orleans, em 8 de novembro. Não há movimentações de campo da “Swamp Sweep” ainda – os agentes estão em “fase de posicionamento”, instalando equipamentos em uma base naval próxima e pausando operações para evitar caos no tráfego de feriado.
Mas o vazamento prévio dos planos, com detalhes como o nome da operação e metas de 5.000 prisões em dois meses (foco no sudeste da Louisiana e sul do Mississippi), já surtiu efeito: imigrantes, que representam 6,5% da população local (cerca de 23.400 pessoas, segundo o Censo dos EUA), estão se entrincheirando. Metade desses imigrantes vem da América Latina, e muitos são o “esqueleto invisível” da economia da Crescent City. Eles cozinham os pratos creoles e cajuns que atraem milhões de turistas para o Mardi Gras, limpam hotéis lotados e reconstruíram a cidade após Katrina – um estudo da Universidade da Califórnia em Berkeley mostra que latinos e imigrantes indocumentados formaram 75% da força de trabalho na recuperação pós-2005. Hoje, a população hispânica é o dobro do que era antes do furacão. Mas rumores de agentes à paisagem já causam estragos: em Tia Maria’s Kitchen, o restaurador hondurenho Jose Almendares, protegido pelo DACA (Ação Diferida para Chegadas na Infância), fechou mais cedo no sábado por falta de equipe. “Há muita ansiedade, porque vimos o que rolou em Chicago e Charlotte. As pessoas estão se escondendo”, diz ele, que ministra treinamentos informais sobre direitos da Quinta Emenda e a importância de chamar um advogado.
O impacto econômico é imediato. Ingrid Ferguson, dona de cinco mercearias especializadas em produtos centro-americanos, relata queda de quase 50% na receita semanal, atribuída ao tráfego reduzido de clientes latinos – sua base principal. “Meus funcionários imigrantes, mesmo com permissões de trabalho, estão com medo de sair de casa. Estamos fazendo entregas grátis para ajudar, mas se piorar, terei que fechar lojas temporariamente. Construí isso em nove anos; fechar as portas seria devastador”, desabafa ela, cidadã naturalizada que, após 20 anos nos EUA, considera voltar a Honduras pela primeira vez.
Uma empresária mexicana de construção, que pediu anonimato por medo de retaliação, conta que contratos de estuque e gesso paralisaram: “Meus trabalhadores especializados, muitos aqui há anos, não aparecem. E eu, mesmo legal, me sinto visada por ser ‘marrom’ e falar espanhol”. Lindsey Navarro, fundadora do El Centro, uma ONG que apoia empreendedores latinos, prevê o pior para hotéis e restaurantes: “As pessoas não querem arriscar deportação. É um cerco, não uma batida”. A tensão é ainda maior para quem fugiu de violência em seus países natais, crendo que os EUA seriam refúgio. “Eles chegam confiando que aqui não vai acontecer de novo o que sofreram lá. Ver isso se repetindo é decepcionante”, reflete Navarro.
RESISTÊNCIA E ATIVISMO: UMA CIDADE ACOSTUMADA A SE AUTOPROTEGER
Enquanto o medo se espalha, uma onda de solidariedade surge, inspirada em ações de Chicago (“Operation Midway Blitz”, com 3.000 detenções) e Charlotte. Navarro e o grupo Southeast Dignity Not Detention distribuíram mais de 1.500 kits de apito – com assobios, cartões de “Conheça Seus Direitos” e instruções para alertar sobre agentes. A União Migrante oferece consultas jurídicas gratuitas, cartas de procuração e até passaportes acelerados para filhos cidadãos americanos, preparando-se para separações familiares.
Mich Gonzalez, cofundador da coalizão, destaca: “Nova Orleans é cheia de gente com raízes profundas em organização. Após Katrina, o governo federal nos abandonou por dias, deixando milhares sem comida ou água. Aprendemos a nos cuidar uns dos outros”. A prefeita-eleita Helena Moreno, democrata nascida no México, monitora de perto: “Pais estão com medo de mandar filhos à escola. Na minha igreja, o culto em espanhol às 13h encolheu drasticamente. As pessoas estão aterrorizadas”. Seu escritório lançou diretrizes para interagir com agentes federais, contrastando com o apoio de Landry, que no Fox News chamou Nova Orleans de “ninho de atividade criminosa ilegal”. O chefe de polícia de Kenner, Keith Conley, disse: “Nada a temer, a menos que você tenha algo a temer” – frase que viralizou no X, com 5.600 curtidas.
Gregory Bovino, que liderou o setor de Nova Orleans na primeira gestão Trump, escolhe alvos com base em “inteligência e liderança”, casando ordens de Trump e da secretária Kristi Noem com dados de risco. “Casamos isso e batemos forte”, disse ele à CNN em outubro. Mas advogados como Marco Balducci questionam: “Não é sobre segurança pública, é pretexto. Se fosse, usariam polícia criminal, não ICE”. Dados da Polícia de Nova Orleans mostram queda de 20% nos crimes violentos no primeiro trimestre de 2025, em comparação a 2024.
Operações passadas sob Trump II – com agentes armados, máscaras e veículos sem placas – geraram críticas por uso excessivo de força, incluindo tiros, gás lacrimogêneo e granadas de atordoamento contra cidadãos e não-cidadãos. O DHS, ao responder à CNN, limitou-se a: “Por segurança, não sinalizamos operações potenciais”, via assistente Tricia McLaughlin.
PANORAMA NACIONAL: PROPAGANDA OU REALIDADE?
Nova Orleans é o terceiro alvo em cidades democratas de estados republicanos, após Charlotte e Chicago, onde o ICE deportou quase 200 mil desde janeiro – recorde em uma década. Analistas veem “Swamp Sweep” como 60% repressão e 40% show: o nome lermbr o “drenar o pântano” de Trump, e o vazamento prévio cria pânico sem custo, agradando farmers do Meio-Oeste e MAGAs aguerridos que veem “ação” na TV, não em números reais (projetados em 3.500-4.000 na Louisiana, mas muitos sem crimes).
Com fronteiras já seguras (menor fluxo desde 2020), críticos pedem leis migratórias honestas: regularização para enraizados, vistos rápidos para trabalhadores essenciais. Mas, como Balducci diz, “racional não rende votos em 2025”. Enquanto isso, a cidade afunda – literal e figurativamente – à espera do temporal. Fique ligado para atualizações pós-Thanksgiving.


