Por: Jehozadak Pereira
Patrão, eu estou “precisado” de ouvir uma boa notícia!
Foi assim que o esfarrapado mendigo pediu ao homem bem vestido que lhe contasse algo que alegrasse o seu coração. Neste mundo de solitários e necessitados, há uma carência cada vez maior de boas notícias. Só que elas não existem. Boas notícias são escassas. Já viu que quando toca o seu telefone ou batem à sua porta, muitas vezes você se sobressalta? O que será agora? Que notícias vão me dar, e como as receberei?
Em plena época de pandemia tudo está extremamente potencializado. A espera pela vacina apropriada, a preocupação com os parentes lá no Brasil, a grave crise que assola os Estados Unidos e o mundo, servem para assombrar e provocar pavor em milhões de pessoas.
Tem também a polarização política aqui e no Brasil, devidamente repercutida e reverberada pelas cansativas redes sociais que não perdoam ninguém e agravam ainda mais as diferenças de opiniões.
Rivais transformaram-se em inimigos e famílias inteiras têm sido vítimas desta polarização e intolerância que provam divisão, mágoa, rancor, hostilidade e separação.
Os piores males que assolam as populações das grandes metrópoles são pela ordem a solidão e as más notícias. Má notícia, necessariamente não precisa ser morte, doença, desemprego ou qualquer notícia do gênero. Má notícia pode ser rompimento, partida, perda de algo que se aprecia muitíssimo.
Um dos grandes pesares dos nossos dias é a perda da dignidade; é não termos a capacidade de nos insurgir contra as injustiças, e sequer choramos quando algo nos choca profundamente. São tantas tragédias e infortúnios que sequer temos tempo de nos chocar.
A cada dia que passa os meios de comunicação trazem sempre más notícias das quais não podemos fugir, a não ser que façamos como aquele caso da família bem rica que pagava para imprimir um único exemplar diário de um jornal só com boas notícias para que o patriarca muito doente e moribundo não se abalasse.
Aqui mesmo nos Estados Unidos há pessoas que estão cada vez mais temerosas e preocupadas por tudo que a cada dia se torna pior e sem nenhuma perspectiva de melhora.
Basta a Globo veicular uma notícia qualquer acerca do que se passa por aqui para que os parentes no Brasil fiquem desesperados. Cada vez que sai um tiroteio as pessoas ligam e querem saber se foi perto da gente. Quem não se lembra do 11 de setembro de 2001 com todos os seus horrores, quando um monte de gente aqui, no Brasil e no mundo ficou apavorada.
E a lei de imigração que nunca acontece? E a carteira de motorista que tarda em vir?
Aliás, o que não falta são os agourentos de plantão. Para eles não se pode ir na esquina, pois a imigração vai estar esperando lá. Andar de carro então? Nem pensar.
A polícia sempre vai estar espreitando para pegar quem dirige com carteira internacional, ou quem não tem carteira do estado, sem contar os oportunistas que vociferam bobagens todos os dias nas ondas do rádio.
E aquela dorzinha insistente nas costas? Logo vira a possibilidade de ser algo maligno, só porque estamos sempre acostumados e pre- parados para o pior e para as más notícias que teimam em bater nas nossas portas.
E os oportunistas que querem crescer na ingenuidade dos patrícios e não hesitam um instante sequer em manipular trabalhadores que servem de massa de manobra. E como se não bastasse os nacionais nos últimos tempos surgiram até alguns escudeiros que querem ser as vozes das consciências e opinam sem que ninguém
lhes pergunte nada.
Só que estamos vivos e melhor, vivendo com intensidade cada dia, mesmo que não nos demos conta disto. Quantos gostariam de estar nos nossos lugares e não podem? Mesmo que não tenhamos tido boas notícias nos últimos tempos, temos de ter sempre a esperança de que dias melhores virão. Portanto, nada de se abalar ou ficar pessimista com o futuro, pois por pior que ele possa parecer e se desenhar, sempre estamos melhor do que o nosso vizinho.
Olhe a sua volta agora, ou na janela da sua sala, e veja quantos solitários estão do lado de fora, e mais ainda – quantos são os que precisam de boas notícias – que pode ser uma palavra de alento, de incentivo, ou mesmo um pequeno sorriso.
Você nunca esteve “precisado” de que alguém parasse ao seu lado e te dissesse boas palavras? Ou nunca sentiu vontade de gritar ao mundo que você está solitário, e quer que alguém se lembre de você?