
Boston, 05 de Novembro de 2025 –
Nas eleições municipais de novembro de 2025, as urnas de Boston e Nova York lembram um chamado familiar: o de um progressismo audacioso, que, com leveza e convicção, parece priorizar promessas grandiosas sobre realidades fiscais concretas. Em um ano marcado pela sombra de uma administração federal republicana, o Partido Democrata, guiado por sua ala mais à esquerda, celebrou vitórias que reforçam sua inclinação por um populismo esquerdista e “woke” – aquele que, sutilmente, agrada audiências com retórica de inclusão radical, mas deixa no ar a dúvida sobre sua viabilidade prática. Não se trata de uma crítica exacerbada, mas de uma observação serena: em tempos de contenção orçamentária, ideais nobres como santuários para imigrantes ou serviços gratuitos são como um bálsamo para os desfavorecidos, especialmente aqueles vindos de horizontes mais distantes, me refio aos imigrantes vindos do terceiro mundo, enquanto o contribuinte americano médio pondera o custo real dessa generosidade.
Boston: A Reafirmação de um Progressismo Inabalável
Em Boston, a prefeita Michelle Wu, ícone progressista e filha de imigrantes taiwaneses, deslizou para sua segunda gestão sem o suor de uma disputa acirrada. Eleita sem opositores – após esmagar seu principal desafiante, Josh Kraft, por 49 pontos na prévia de setembro –, Wu conquistou cerca de 92% dos votos reportados, em uma vitória que mais pareceu uma aclamação do que uma eleição. Sua plataforma, ancorada na defesa intransigente das políticas de “santuário” para imigrantes indocumentados, ganhou holofotes nacionais ao desafiar abertamente a administração Trump em audiências congressionais. “Boston não se curva a reis criminosos”, proclamou ela em seu discurso de vitória, evocando um ideal de resistência que lembra os valores fundadores da nação – ou, pelo menos, com a versão mais ideológica deles em uma escolha seletiva daquilo que faz arte da alma dos USA.
Os olhos, contudo, estavam no Conselho da Cidade, onde a reeleição do conselheiro at-large Henry Santana, aliado de Wu e ex-funcionário dela, emergiu como o embate mais aguardado. Apesar de gastos exorbitantes de seus oponentes, Santana prevaleceu com cerca de 15% dos votos, terminando em quarto lugar e superando o ex-conselheiro Frank Baker, que buscava um retorno à cena política. “Boston não pode ser comprada”, ironizou Santana, dedicando sua vitória à mãe, que luta contra o câncer. Outros destaques incluem Ruthzee Louijeune, filha de imigrantes haitianos, liderando o ticket at-large com folga, e Miniard Culpepper, pastor batista, conquistando o Distrito 7 – vago desde a renúncia por corrupção da ex-conselheira Tania Fernandes Anderson – com 53% contra 45% de Said Coach Ahmed.
Essa onda progressista, com seu tom de desafio ao establishment, ilustra o apelo do populismo democrata: promessas de equidade que cativam comunidades imigrantes que acreditam no poder do estado para governar suas vidas, mas que, podem mascarar as tensões fiscais de uma cidade já pressionada por demandas federais hostis .E, como não poderia deixar de ser, a presença da comunidade brasileira em Massachusetts se fez sentir de forma notável nessas eleições.
Em cidades como Framingham, onde a população latina e brasileira é pujante, o prefeito Charlie Sisitsky (Democrata) foi reeleito em uma disputa apertada, refletindo o apoio sólido de eleitores imigrantes a plataformas inclusivas.
Em Everett, um upset histórico: o veterano Carlo DeMaria (independente, mas alinhado a conservadores locais) perdeu após 18 anos no cargo para o conselheiro Robert Van Campen (Democrata), por 678 votos, em uma vitória atribuída à mobilização de comunidades brasileiras e latinas cansadas de escândalos locais. Outras joias como Marlborough e Lowell viram avanços democratas em conselhos municipais, impulsionados por eleitores de origem sul-americana que veem nessas vitórias um alento as suas aspirações por moradia acessível, alugueis tabelados e proteção social pagos pelos contribuintes.
Nova York: O Triunfo do Socialismo Democrático e Suas Promessas

Mais ao sul, em Nova York, o furacão Zohran Mamdani, o radical socialista de 34 anos, um Muçulmano Xiita nascido em Uganda e criado no Queens, irrompeu como o novo prefeito, derrotando o ex-governador Andrew Cuomo (independente) por 9 pontos percentuais – com cerca de 50,6% dos votos contra 41,6% – e o republicano Curtis Sliwa, em uma das maiores viradas eleitorais da década.
Com mais de 2 milhões de eleitores – o maior comparecimento em 50 anos –, Mamdani, primeiro muçulmano, sul-asiático e o mais jovem prefeito em um século, celebrou sua ascensão como um “mandato para mudança”. “Nova York é uma cidade de imigrantes, liderada por um imigrante”, declarou ele, desafiando diretamente Trump.
A plataforma de Mamdani, um verdadeiro catálogo de populismo esquerdista woke, encantou multidões com promessas de serviços gratuitos: transporte público sem custo, creches universais, mercearias geridas pela cidade e moradias subsidiadas em massa. Ideias que, não por acaso, seduzem imigrantes da América Latina e do Terceiro Mundo, trazendo memórias do assistencialismo estatal em suas terras natais – um apelo sutil, mas eficaz, que transforma aspirações em votos.
Críticos como Cuomo alertaram para o “caminho perigoso” de agendas irrealistas, enquanto Sliwa profetizou o enfraquecimento da polícia. Mamdani, carismático e inexperiente, temperou sua retórica anti Judaica e com uma retratação sobre o “defund the police”, prometendo manter o comissário atual. Ainda assim, sua visão otimista de uma Nova York “para a classe operaria” ignora, com leve ironia, o veto da governadora Kathy Hochul a mais impostos aos contribuintes.
Observa-se aqui o cerne do democrata contemporâneo: um woke radical que, sob o manto da esperança, flerta com o impossível, deixando para o futuro o ônus de equilibrar ideais com aritmética. Para contextualizar o panorama nacional, eis uma tabela resumida dos resultados em outras capitais e grandes cidades, onde os democratas dominaram, reforçando essa maré progressista:
| Cidade | Candidato Vencedor | Partido | Margem Aproximada |
| Atlanta | Andre Dickens | Democrata | Reeleição (55%) |
| Pittsburgh | Corey O’Connor | Democrata | Vitória inicial (52%) |
| Richmond (VA) | (Não especificado; foco em governador) | Democrata | N/A (estado) |
| Newark (NJ) | (Não especificado; foco em governador) | Democrata | N/A (estado) |
| Sacramento (CA) | (Não especificado; foco em Prop 50) | Democrata | N/A (medida) |
Esses triunfos, em um primeiro teste pós-Trump, pintam um quadro de resiliência democrata, mas também de uma guinada à esquerda que, sutilmente, prioriza o espetáculo ideológico sobre a governança pragmática.


