
Broad River Correctional Institution, Columbia, Carolina do Sul
14 de novembro de 2025, 18 horas
A criança que nasceu com o cérebro envenenado pelo álcool da mãe e que foi estuprada pelo avô, pelo tio, pelo meio-irmão, pela mulher do pastor e pelas stripteases do bairro antes dos treze anos, que carregou o esperma dos seus algozes na boca enquanto ainda tentava aprender a falar direito, essa criança cresceu e, em oito de outubro de 2004, matou três homens a tiros pelas costas e escreveu “catch me if u can” com o sangue de um deles na parede.
A sociedade, que nunca o protegeu, chamou-o de monstro e decidiu matá-lo vinte e um anos depois, com a frieza de quem corrige um erro de contabilidade.
Dezessete anos no corredor da morte. Dezessete anos em que Stephen Corey Bryant aprendeu a perdoar os que o destruíram, a proteger os mais fracos dentro da jaula, a pedir que ninguém mais fosse rejeitado por falta de dinheiro quando implorasse por ajuda psiquiátrica. Dezessete anos em que o Estado da Carolina do Sul respondeu: “Não importa. Você vai morrer do mesmo jeito.”
E morreu.
A Preparação: Um Olhar Breve e o Véu da Escuridão
Às 18h02 a cortina sobe. Dez testemunhas. Três familiares de TJ Tietjen na primeira fila, mãos entrelaçadas como quem segura um rosário de ódio. Bryant está sentado, pés algemados, braços presos atrás das costas, tronco imobilizado. O uniforme laranja já parece um sudário. Um adesivo branco com um círculo vermelho do tamanho de uma moeda é colado exatamente sobre o coração. Um médico de jaleco branco faz o serviço com a mesma naturalidade de quem coloca um selo em carta registrada.
Bryant olha uma última vez para o vidro. Não há súplica nos olhos. Há apenas um vazio antigo. O carrasco aproxima-se, desdobra o capuz preto e o cobre. A escuridão desce como um túmulo antecipado.
O Tiro: Precisão Letal no Coração
Três guardas voluntários, rostos escondidos, rifles .308 apontados a 4,5 metros. Nenhum sinal sonoro. Nenhum “fogo”. Apenas o silêncio que precede o trovão. Três estampidos se fundem num único rugido. O alvo vermelho voa, arrancado do peito, e bate na parede com um estalo seco. O sangue jorra de imediato, quente, espesso, encharcando o laranja até virar um roxo escuro. A camisa gruda na pele como segunda pele molhada. O cheiro metálico invade a câmara.
A Agonia Silenciosa: Sem Gritos, Mas Espasmos e Respirações Rasas
Ele não gritou. Esse é o detalhe que mais dói. Nenhum grito, nenhum “mãe”, nenhum “Deus”. Apenas respirações curtas, desesperadas, como peixe fora d’água. Quarenta segundos de peito subindo e descendo em espasmos cada vez mais fracos. Um tremor percorre os braços presos. As correias rangem.
Depois, o corpo cede de lado, pesado, inerte. O sangue continua escorrendo, pingando no chão de concreto até formar uma poça perfeita, redonda, quase artística.
Um minuto e meio depois o médico volta, encosta o estetoscópio no buraco que já foi coração e pronuncia a frase que o Estado tanto queria ouvir: “Morto.”
As Testemunhas: Abraços e um Alívio Pesado
Na primeira fila, os familiares de TJ Tietjen se abraçam. Um abraço longo, convulsivo, que mistura alívio e náusea. Alguém chora baixinho. Alguém sorri sem querer. Do outro lado do vidro, jornalistas anotam com mãos que tremem. Ninguém fala alto. Todos sentem o mesmo gosto de ferro na boca.
Jeffrey Collins, da Associated Press, escreveu depois: “O sangue se espalhou tão rápido que parecia que o uniforme inteiro ia derreter.” Um repórter local murmurou para o colega: “Isso não é justiça, é vingança com protocolo.” Lá fora, vinte manifestantes gritavam “bárbaro” enquanto o Estado limpava o chão com mangueira e já preparava a cadeira para o próximo.
E assim terminou Stephen Bryant: o menino estuprado que virou assassino, o assassino que aprendeu a perdoar, o perdoado que o Estado matou com três balas no peito porque, no fim das contas, perdoar não tem valor de mercado e sangue seco na parede pesa mais do que vinte e um anos de arrependimento.
A cortina desceu.
O cheiro de pólvora ficou.
A poça de sangue foi lavada em menos de dez minutos.
A Carolina do Sul dormiu tranquila, convicta de que acabara de fazer justiça.
Que Deus tenha piedade de todos nós.


