Por: Alfredo Melo
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A construção do estádio do Morumbi foi o que se costuma chamar de obra de igreja. A obra durou 18 anos para ser finalizada, começou em 1952 e terminou em 1970. Foi um período de seca de títulos para o São Paulo Futebol Clube, que investia todo o dinheiro na construção do estádio.
Para não ficar totalmente zerado, o clube conquistou o campeonato paulista de 1957. No final de 1969, com o estádio quase concluído, o tricolor paulista, começou a montar um time digno do novo estádio e jogadores de alto nível como Gerson, Forlan, Pedro Rocha e Toninho Guerreiro foram contratados.
A venda de Gerson, provocou uma revolta na torcida botafoguense contra a diretoria e contra a “canhotinha de ouro”. A torcida não perdoou Gerson por ter trocado o Botafogo pelo São Paulo.
A primeira partida disputada entre Botafogo x São Paulo, depois da saída de Gerson, aconteceu no Maracanã, pela taça de prata de 1970. Quando o São Paulo pisou no gramado do Maracanã, a torcida alvinegra disparou uma vaia ensurdecedora contra Gerson. A bola rolou e o inferno astral de Gerson continuou, era Gerson tocar na bola, para a torcida gritar “e esse, e esse”.
O zagueiro Moisés do botafogo, conhecido como “xerife” comprou a ideia da torcida e resolveu caçar o “canhotinha”. Tentava de todas as formas, entrar para quebrar o meio campista do São Paulo, ex-ídolo alvinegro. Parecia que Moisés era o grande craque e Gerson um jogador mediano. Ainda no primeiro tempo, Gerson estava no círculo central de costas para a defesa alvinegra, preparado para receber um passe da zaga são paulina, quando Moisés disparou em direção a Gerson dando um carrinho por trás.
Gerson, com a percepção que só os grandes craques têm, sentiu que moisés chegava ao mesmo tempo que a bola e com um passo para a direita e com um sutil toque na bola com o pé esquerdo, saiu e tirou a bola da direção de moisés, que passou direto como um ônibus lotado, depois de alguns segundos de um silencio ensurdecedor, o Maracanã explodiu em aplausos e gritos de Gerson, gerador da torcida alvinegra.
Naquele instante o amor à arte ao futebol e ao ídolo, falou mais alto. O zagueiro moisés, durante bom tempo da partida, quando tocava na bola, era vaiado pela sua própria torcida. Ao final da partida, Gerson se dirigiu à torcida organizada do Botafogo, comandada pelo saudoso Tarzan e foi aplaudido de pé. Apesar de se declarar torcedor do Fluminense, Gérson tem demonstrado muito amor, muito carinho e muito respeito ao botafogo, fazendo com que muitos duvidem, que ele seja tricolor.
Eu aproveito a crônica de hoje, para mais uma vez, quarenta e cinco anos depois, me penitência, diante do meu velho ídolo, por ter sido um dos que o viram naquela noite de 1970, no maracanã, mas que também, o aplaudiu reconhecendo o valor, o talento e a dignidade de Gerson de Oliveira Nunes, depois de Valdir pereira o “Didi“, o mais talentoso camisa 8 do futebol brasileiro.
Bem, até que enfim o Alfredo Melo assume a verdade que nunca quis calar: ele é o Gatinho Cruel, que agora sai de cena para dar lugar ao seu criador. Enorme criatura no sentido literal, na bondade, no caráter e no conhecimento profundo do futebol e das coisas boas da vida, inclusive pratos deliciosos. Ah, tem também a paixão pelo Botafogo cada dia maior