
Nova York, 30 de outubro de 2025 –
Com menos de uma semana para as eleições municipais, a Big Apple parece prestes a engolir um indigestão ideológica que pode dar azia não só à cidade, mas ao Partido Democrata inteiro. Zohran Mamdani, o “assemblyman” de 34 anos e socialista radical declarado, desponta como favorito avassalador na corrida pela prefeitura, surfando em uma onda de entusiasmo juvenil e promessas de “affordability” que lembram contos de fadas do que planos viáveis.
Pesquisas recentes, como a da Emerson College Polling divulgada na quinta-feira, o colocam com 50% das intenções de voto entre eleitores prováveis – uma margem de 25 pontos sobre o ex-governador Andrew Cuomo, que patina nos 25%, e 29 pontos à frente do republicano Curtis Sliwa, com 21%. Incluindo os indecisos, Mamdani sobe para 51%, enquanto Cuomo mal respira com 26%.
É um domínio que cresceu desde setembro, quando sua liderança sobre Cuomo era de “apenas” 15 pontos, e que reflete não só o desgaste de rivais, mas uma guinada perigosa à esquerda no coração do establishment democrata.
Como republicano moderado, confesso: há algo de revigorante em ver Cuomo, o eterno sobrevivente político, tropeçando em suas próprias cicatrizes. O homem que renunciou ao governo em meio a escândalos de assédio sexual e má gestão na pandemia – negados por ele, é claro – viu seu apoio cair ligeiramente de 28% para 26% desde o último levantamento da Emerson.
E Sliwa, o fundador dos polêmicos Guardian Angels, uma espécie de milícia urbana que sempre cheirou a vigilantismo de faroeste, dobrou seu apoio de 10% para 21%, mas ainda parece mais um coadjuvante excêntrico do que uma ameaça real. No entanto, essa fragmentação beneficia Mamdani, que construiu uma coalizão improvável: eleitores jovens (69% dos abaixo de 50 anos o apoiam), e até uma virada impressionante entre negros, de 50% para 71%, enquanto Cuomo perdeu 10 pontos nesse grupo demográfico.

Spencer Kimball, diretor da Emerson, acertou em cheio: Mamdani tem uma “base jovem”, mas isso é exatamente o problema. Uma cidade gerida por um novato de 34 anos, com raízes no Democratic Socialists of America (DSA), onde defendeu desfinanciar a polícia e descriminalizar a prostituição? Isso não é progresso; é um convite ao caos.
Mamdani, um mulçumano Xiita nascido em Uganda e educado em Bowdoin College com foco em estudos africanos – o que críticos veem como imersão em dogmas esquerdistas –, entrou na primária democrata como um azarão e saiu como um juggernaut, derrotando Cuomo por dois dígitos em junho. Sua campanha, alimentada por oposição à política de Israel em Gaza e apelos por uma Nova York “mais acessível” (leia-se: impostos mais altos e salário mínimo de US$ 30/hora até 2030), mobilizou uma multidão de 10 mil em um comício no Queens no domingo, ao lado de Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez (AOC). “Temos um movimento das massas”, proclamou Mamdani, mostrando o fervor sandersista.
Mas vamos ser francos: esse “movimento” é menos sobre governança e mais sobre raiva anti-Trump e anti-establishment. Uma pesquisa da Quinnipiac de quarta-feira o mostra à frente de Cuomo por 10 pontos (43% a 33%), com Sliwa em 14%, mas em um hipotético segundo turno sem o republicano, a corrida aperta para 44,6% contra 40,7% – dentro da margem de erro.
E se Sliwa, pressionado por alguns republicanos a desistir em favor de Cuomo, mantiver sua teimosia? Bem, isso só divide o voto anti-socialista, pavimentando o caminho para o primeiro prefeito muçulmano e millennial da maior cidade americana. Aqui entra o elefante na sala – ou melhor, a congressista do Bronx. AOC, com seus 36 anos e ambições presidenciais para 2028, apostou tudo em Mamdani, endossando-o antes mesmo da primária e transformando seu comício em um ringue anti-Trump. “Estou falando com você, Donald Trump”, gritou ela para a multidão, pintando Mamdani como o antídoto para uma “presidência autoritária, criminal e alimentada por corrupção e bigotismo”. É poético, mas ingênuo.
Estrategistas democratas sussurram que uma vitória de Mamdani seria “prova de conceito” para AOC: se ele entregar affordability em escala – moradia, saúde, educação –, ela pode surfar essa onda para o Senado de Nova York ou a Casa Branca. Mas e se ele flop? Republicanos já lambem os beiços: Steve Scalise, líder da maioria na Câmara, chamou Mamdani de “cabeça do partido democrata agora”, prevendo impostos mais altos para todos. Trump tuitou que AOC é “baixa QI” e desafiou-a para um debate.
Se Mamdani tropeçar – e gerir uma metrópole como Nova York exige mais que retórica inflamada –, AOC será arrastada junto, virando o poster child do fracasso progressista. “Ela tem mais a perder que ele”, admitiu um estrategista democrata anônimo, ecoando o ceticismo de vozes centristas como a de Jonathan Tasini, que alerta: vitórias como essa em Nova York dependem de candidatos “bons” contra “flawed” como Cuomo e “whack-jobs” como Sliwa, não de um tsunami nacional.
Não se engane: essa euforia progressista – de Mamdani no topo das pesquisas da Suffolk (44% a 34% sobre Cuomo) a especulações sobre AOC em terceiro em New Hampshire, atrás de Buttigieg e Newsom – é um sintoma de frustrações reais. Ansiedade econômica, desigualdades gritantes, o “como Elon Musk tem bilhões e eu mal pago as contas?” de Tasini ressoa. Mas como republicano moderado, vejo perigo em romantizar isso.
Fora de Nova York, centristas democratas como Mikie Sherrill e Abigail Spanberger lideram corridas para governador em Nova Jersey e Virgínia, provando que o centro ainda vence. Mamdani pode prometer “escolas verdes” e uma rede de segurança social, mas sem experiência executiva, ele arrisca transformar a Apple em uma república socialista experimental. E se ele ganhar na terça? Espere uma enxurrada de críticas: será que ele pode entregar eficiência em uma cidade atolada em dívida e crime? Ou virará combustível para Trump pintar democratas como extremistas?
O establishment democrata, de Hakeem Jeffries (que endossou Mamdani a contragosto) a moderados como Cuomo, uniu-se tarde demais. Bloomberg reafirmou apoio ao ex-governador esta semana, mas é pouco, tarde. Mamdani avisa contra complacência, mas sua marcha parece inexorável. Para o bem da América – e de Nova York –, torço por um freio. Porque se o socialismo millennial pegar, o que sobra para o pragmatismo moderado? Fiquem atentos: essa eleição não é só sobre a prefeitura; é um teste para o futuro do Partido Azul. E, francamente, ele está falhando.


